Teste os seus conhecimentos sobre palavras em ‘gauchês’
Alguns exemplos das nossas particularidades linguísticas.
Consegue traduzir a frase a seguir: “Uma china que era um verdadeiro canhão subia a lomba. Na porta do boteco, um gambá que bebia mais uma ceva solta uma gaitada. E a guria logo perguntou: qual é o teu pastel?”
Vamos às respostas: china (mulher), canhão (mulher muito feia), lomba (ladeira), gambá (bêbado), ceva (cerveja), gaitada (gargalhada), guria (menina), qual é o teu pastel? (que você pretende?, qual é a sua intenção?).
E agora observe as deliciosas definições que o nosso professor Fischer dá para alguns termos tipicamente gaúchos:
“TRI – Advérbio de uso universal em porto-alegrês. Em geral, quer dizer “muito”: um sorvete pode ser “tribom”; uma mulher pode ser “trigostosa”; uma comida pode ser “trirruim”…”
Daí o famoso “trilegal”.
“COREIA – Não sei por que cargas d’água assim se chamava o espaço existente no glorioso Estádio José Pinheiro Borba, popularmente conhecido como Gigante da Beira-Rio, destinado aos torcedores com menos dinheiro, que por isso mesmo ficam de pé o tempo todo. No Rio, no Maracanã, chamava-se a isso de “geral”.”
“COLORADO – Sujeito de alto discernimento espiritual, que prefere torcer por um time de elevados méritos, o Sport Club Internacional, mesmo quando perde. Diferente do gremista, que é um sujeito melancólico, raivoso, de baixa espiritualidade. Vem direto do espanhol, em que tem sentido de “da cor vermelha”, que aliás é linda, sem nenhum preconceito.”
“DEU PRA TI – Expressão das mais interessantes e das menos compreendidas fora daqui. Se alguém diz para outro “deu pra ti”, está dizendo que chegou, que o cara pode cair fora, pode tirar o cavalo da chuva, já foi suficiente…”
DÚVIDAS DOS LEITORES
Leitora quer saber se a frase a seguir está correta: “Sendo que a anuidade e a manutenção do mesmo encontra-se quitado até junho de 2011.”
Temos três observações a fazer:
1. Há um erro de concordância: “…a anuidade e a manutenção encontram-se quitadas…”
2. Em vez de “encontram-se”, melhor seria dizer “estão quitadas”. Em cartas comerciais o verbo “encontrar-se” é usado excessivamente. Virou moda e ficou muito chato.
3. Sugiro também que se evite o uso da palavra “mesmo” como pronome substantivo (=substituindo algum termo anterior). Além de ser um modismo típico de cartas comerciais, caracteriza pobreza vocabular e, em geral, obriga o leitor a reler o texto. É preferível usar sinônimos ou pronomes pessoais.
NORMATIZAR ou NORMALIZAR?
Leitor me critica: “Você reproduziu em sua coluna uma observação na qual se lia ‘…unidades são normatizadas…’ Normatizar? Como você deixou passar em branco uma aberração como essa?”
Meu caro leitor, veja o que diz a novíssima edição do dicionário Aurélio: “NORMATIZAR – Estabelecer normas para; submeter a norma(s).”
Isso significa que o neologismo já está devidamente registrado.
Sei perfeitamente que muitas empresas no Brasil preferem usar apenas o verbo NORMALIZAR, no sentido de “tornar normal” e de “estabelecer normas”.
A maioria, entretanto, prefere fazer a diferença: NORMALIZAR = tornar normal; NORMATIZAR = estabelecer normas.
Se você prefere o verbo NORMALIZAR, eu respeito; no entanto considerar o verbo NORMATIZAR uma aberração são outros quinhentos.
DESAFIOS
1º) Devemos ou não usar o acento da crase na frase:
“Seus 10.000 exemplares ensinam as crianças a importância de respeitar as placas de sinalização, utilizar as passarelas e avisar a concessionária quando há animais soltos na pista.”
Vamos às respostas:
1ª) Devemos “ensinar às crianças a importância de respeitar as placas
de sinalização” (=ensinar aos alunos a importância…);
2ª) Devemos “avisar à concessionária quando há animais soltos na
pista” (=avisar ao responsável quando há animais na pista).
2º) Qual é a forma correta: “Superávit do balanço de pagamentos atinge US$1,3 BILHÃO ou BILHÕES”?
Resposta: US$ 1,3 BILHÃO, ou seja, um bilhão e 300 milhões de dólares.