MACACO
Inteligente e comunicativo a ponto de apresentar, em alguns casos, recursos expressivos próximos a uma linguagem, o macaco é um dos animais que mais atraem a atenção do homem, sobretudo por despertar as emoções da identificação, pois todas as espécies de macaco se assemelham bastante aos seres humanos.
Macaco é o nome genérico de todos os mamíferos primatas da subordem dos antropoídeos, exceto o homem. Classificam-se nas superfamílias dos ceboídeos (como os macacos-prego, os guaribas e os barrigudos), cercopitecoídeos (como o reso, o babuíno e o mandril) e hominoídeos, à qual pertencem as famílias dos antropóides pongídeos (como, por exemplo, o gorila e o chimpanzé).
A maioria dos macacos vive nas regiões tropicais do globo, principalmente em florestas, mas também em savanas e pântanos, em áreas semidesérticas ou de clima temperado e frio, como no Japão, e no Himalaia. Nas Américas Central e do Sul, habitam sobretudo as florestas úmidas. Poucos vivem nos campos, caatingas e terrenos alagados, embora todos sejam capazes de nadar. O macaco-do-Japão (Macaca fuscata) entra na água, e o násico ou proboscídeo (Nasalis larvatus), de Bornéu, vive junto aos manguezais e florestas alagadas. O macaco-da-barbária (Macaca sylvanus), das montanhas do Marrocos e da Argélia, deve ter sido levado há séculos para o sul da Europa; vive em Gibraltar e é a única espécie que existe no continente. No Saara há duas espécies, uma das quais é o babuíno-sagrado (Papyo bamadryas).
Os macacos distribuem-se pelos andares das florestas: alguns símios africanos e os uacaris amazônicos instalam-se em árvores de quarenta metros de altura, enquanto os gorilas e os mandris preferem o solo da mata. A maioria, porém, é arborícola. Muitos assumem postura ereta, com ou sem apoio da cauda. Os sagüis e gorilas são capazes de pôr-se de pé quando se assustam.
O cérebro bem desenvolvido, os olhos próximos e situados na parte anterior da face -- o que lhes facilita a visão bilateral e estereoscópica --, mãos e pés dotados, respectivamente, de polegar e hálux oponíveis, e a cauda longa são algumas das características que permitem aos macacos arborícolas movimentar-se com segurança, às vezes como verdadeiros acrobatas. Vários macacos neotropicais possuem a cauda preênsil, outra adaptação à vida nas árvores.
Na maioria, os macacos possuem as unhas achatadas, em vez de garras. Os dedos são sensíveis e delicados, com o tato apurado. As mãos evoluíram da função de agarrar para a de segurar e sentir. O macaco-aranha, o muriqui, o chimpanzé e o orangotango têm a mão em forma de gancho e polegar vestigial. Do quadrupedalismo, praticado no solo ou nas árvores, à braquiação (uso dos braços para suspender e propelir o corpo de um galho para outro), há vários graus nas formas de locomoção dos macacos. No estudo das proporções dos membros em relação ao tronco, foram divididos em três categorias: escaladores, saltadores e braquiadores.
Os primeiros -- cuxiús, uacaris, parauaçus, macacos-de-cheiro, macacos-prego da América Central e do Sul, bugios africanos -- têm corpo bem proporcionado e membros não especializados, isto é, nem alongados nem reduzidos. Deslocam-se em posição quadrúpede, assumindo às vezes a postura bípede para liberarem as mãos, que usam para apoiar-se, levar o alimento à boca ou catarem-se e pentearem-se mutuamente.
Os saltadores -- guigós ou sauás, macacos-da-noite e sagüis -- apresentam tronco e braços curtos e membros posteriores alongados. Os braquiadores têm tronco curto, pouco flexível, e longos membros; os braços podem exceder as pernas em comprimento. Os da América, todos com cauda preênsil, que funciona como uma quinta mão, são representados pelo muriqui ou mono-carvoeiro, guariba, barrigudo e macaco-aranha, cuja cauda, especializada, tem na extremidade uma precisão de toque análoga à de um dedo. Os do Velho Mundo são os gorilas, chimpanzés, orangotangos e gibões. Mesmo no solo ou em suporte horizontal, alguns mantêm os braços acima da cabeça.
Em geral, os macacos só se mantêm ativos durante o dia. Uma das poucas exceções é o macaco-da-noite (Aotus trivirgatus), neotropical. Afora o homem, apenas os macacos (e mesmo os notívagos), entre os mamíferos, distinguem cores. O padrão de colorido da pelagem e do tegumento de várias espécies não possui função protetora. É útil, certamente, na identificação recíproca, até entre integrantes de um bando. O olfato é pouco sensível, especialmente nas espécies arborícolas. Os macacos do continente americano têm as narinas separadas, com as aberturas voltadas para os lados. Os asiáticos e os africanos apresentam-nas voltadas para diante e para baixo. Segundo essas características, os primeiros são chamados platirrinos e os últimos, catarrinos.
Folhas, frutos, sementes, pequenos lagartos, anfíbios, caramujos, artrópodes, pássaros e ovos integram a variada dieta dos macacos, na maioria onívoros. Algumas espécies africanas e asiáticas, à semelhança de outros mamíferos, como os hamsters, possuem bolsas jugais, para armazenar alimentos, formadas por uma extensão da mucosa que lhes recobre a boca. O alimento é ali colocado e retirado com as mãos.
O mecanismo de reprodução dos macacos é igual ao da maioria dos mamíferos placentários. O macho, contudo, não possui um período determinado de cio e mantém-se sexualmente ativo durante todo o tempo. A fêmea tem útero bicorne e menstrua mensalmente. Como nos demais mamíferos, a unidade social básica dos macacos constitui-se da fêmea com suas crias -- em geral uma ou duas, raramente três. A maior parte das espécies forma grupos sociais permanentes, integrados por machos adultos, fêmeas em número duas vezes maior que o de machos e os jovens. Vários arborícolas vivem em grupos familiares constituídos por macho, fêmea e crias. Outro tipo de grupamento é o harém, no qual um macho adulto se faz acompanhar de várias fêmeas e das respectivas crias. Estas, em todos os casos, atravessam longo período de aprendizagem.
Alguns grupos de macacos não têm território definido e defendem a área em que se encontram no momento. Outros, porém, como os sauás e os gibões, apossam-se de um território fixo, em que não permitem o ingresso nem mesmo de outros bandos da mesma espécie, recebendo-os com gritos e gestos ameaçadores. Tais áreas são marcadas com ramos, folhas e por meio da deposição, nos galhos das árvores, de secreções das glândulas cutâneas. Nos micos-leões, estas localizam-se nos lados do pescoço. Gálagos e lóris, primatas da subordem dos prossímios, usam para isso a urina, como os cães.
Os componentes de um mesmo grupo ficam juntos durante todo o tempo, mesmo quando comem e dormem, o que fazem com as caudas enroladas umas nas outras. Os macacos de florestas densas, com campo visual restrito, mantêm-se em contato por meio de variados sons vocais. Como já notara Darwin, certas espécies, além disso, usam gestos e expressões faciais para estabelecer posição hierárquica no grupo, reclamar "direitos" ou demonstrar interesse sexual. Nos babuínos, o bocejo é sinal de ameaça. Com finalidades semelhantes, o chimpanzé sapateia e atira ramos ao chão. O gorila adulto macho, quando cabeça de grupo, executa imponente ritual: após bater no peito, corre pela floresta, arrancando tufos e galhos, atirando-os ao chão e batendo no solo com as mãos.
Alguns macacos são capazes de usar instrumentos, mesmo quando não treinados para isso. O chimpanzé pode defender-se de um leopardo com um galho de árvore ou um pedaço de pau, ou empregar uma vara e um caixote, postos a sua disposição, para alcançar um cacho de bananas. Alguns bugios, quando ameaçados, partem ramos e os lançam para baixo, na direção do oponente, embora sem precisão. Na Ásia, há séculos treinam-se macacos para colher cocos e, na Malásia, por ocasião de um levantamento botânico, foram utilizados na coleta de flores e frutos situados a grande altura. Por serem filogeneticamente tão próximos do homem, os macacos são usados como cobaias em pesquisas fisiológicas, biométricas, farmacológicas e comportamentais.