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Imendar ou Emendar - Dicas de Português, Dúvidas de Português, Língua Portuguesa, Matéria Português, Ortografia, Português.



Imendar ou emendar


A forma correta de escrita da palavra é emendar. A palavra imendar está errada. Sempre que nos quisermos referir ao ato de corrigir, melhorar, modificar qualquer coisa, devemos utilizar o verbo emendar.

O verbo emendar tem sua origem na palavra em latim emendare, devendo assim ser escrita sempre com e, nunca com i. Todas as formas conjugadas do verbo emendar também deverão ser escritas com e.

Verbo emendar – Presente do Indicativo (Conjugação reflexiva):
(Eu) emendo-me
(Tu) emendas-te
(Ele) emenda-se
(Nós) emendamo-nos
(Vós) emendai-vos
(Eles) emendam-se

Exemplos:
Já emendei todos os erros do texto. (Corrigir)
É preciso emendar o regulamento interno da empresa. (Modificar)
Este fio não é suficientemente comprido, é preciso emendar. (Acrescentar unindo)
Finalmente, eles se emendaram! (Corrigiram-se)
O artilheiro emendou de primeira e fez gol. (Chutar a bola em movimento)

Palavra Relacionada: emendar

Comida a quilo e entregas em domicílio. - Comprou o apartamento e a vista. Tudo à vista. - Vamos acabar com os excessos - Dicas de Português, Dúvidas de Português, Língua Portuguesa, Matéria Português.




1.    Comida a quilo e entregas em domicílio

Hoje viraram moda os tais restaurantes self service, ou “serve-serve” como preferem alguns.
Há também os restaurantes que fazem “entregas à domicílio”. A crase seria um absurdo, já que domicílio é palavra masculina. Na verdade, nem a preposição “a” se justifica. Se o restaurante faz entregas em casa, no escritório, no quarto do hotel, por que fazer entregas “a domicílio”? O mais adequado, portanto, é fazer “entregas em domicílio”.
Quanto à desgraça da “comida à kilo”, é bom que você saiba que oficialmente a letra “k”, na língua portuguesa, só deve ser usada em palavras derivadas de nomes estrangeiros: darwinismo (de Darwin); em símbolos (K = potássio, Kr = criptônio); em abreviaturas: kg, km, kw (= minúsculas e sem plural).  Ao escrevermos por extenso, devemos substituir a letra “k” por “qu”: quilograma, quilômetro, quilowatt.
É importante lembrar também que grama (= unidade de massa) é substantivo masculino: um grama, duzentos gramas, trezentos gramas. Isso significa que é impossível haver crase. A comida deve, portanto, ser vendida a quilo (=com “qu” e sem o acento da crase).
É lógico que os restaurantes correrão um risco: o brasileiro gosta tanto de “comida à kilo” que poderá desconfiar da qualidade da verdadeira comida a quilo.
E outra dúvida é: DUZENTOS ou DUZENTAS gramas?
O certo é “duzentos gramas”.
“Duzentas gramas” só se fossem “duzentos pés de grama”, aquele vegetal que encontramos em muitos jardins.
A tal história de pedir “duzentas gramas de presunto” está errada. Pior ainda é “duzentas gramas de mortandela”. Sugiro até que você dê para algum “mendingo”!!!
A palavra GRAMA, para peso (=unidade de massa), é um substantivo masculino, por isso o correto é pedir “duzentos gramas de mortadela para o mendigo”.



2.    Comprou o apartamento e a vista. Tudo à vista.

O uso do acento da crase na locução “à vista” sempre gerou muita polêmica. Alguns autores, entre eles o mestre Napoleão Mendes de Almeida, afirmam não haver crase em “a vista”, pois seu correspondente masculino é “a prazo”. Isso comprovaria a ausência de artigo definido. A crase aa se comprova quando o correspondente masculino fica ao: “Referiu-se à carta” (=Referiu-se ao documento). O “a” de “a vista” seria apenas a preposição que introduz as locuções adverbiais.
Outros estudiosos, porém, como o mestre Adriano da Gama Kury, defendem o uso do acento grave indicativo da crase para todas as locuções (adverbiais, prepositivas e conjuncionais) de base feminina: à beça, à deriva, à direita, à distância, à francesa, à mão, à noite, à revelia, à toa, à vista, à vontade, às cegas, às claras, às vezes, à beira de, à base de, à custa de, à medida que, à proporção que…
O argumento usado pelo professor Adriano da Gama Kury é “o uso tradicional do acento pelos melhores escritores da nossa língua” e “a pronúncia aberta do a, em Portugal, nessas locuções, tal como qualquer a resultante de crase – diferente do timbre fechado do a pronome, artigo ou preposição”.
Eu também sou a favor do uso do acento grave em todas as locuções de base feminina. Além da simplificação, há o problema da clareza. “Comprar a vista” é bem diferente de “comprar à vista”. Sem o acento da crase, “a vista” poderia ser o objeto direto, ou seja, aquilo que se está comprando. “A vista” seria o panorama, ou pior, o olho. Mas aí já seria demais.
Para evitar confusões, quando quisermos indicar o modo como compramos ou vendemos alguma coisa, o melhor mesmo é escrevermos “à vista”, com acento grave.
Afinal, servir “à francesa” é bem diferente de “servir a francesa”. Ou não?

3.    Vamos acabar com os excessos

Ultimamente tenho observado um vício de linguagem muito curioso. São frases do tipo: “Aqui está o documento que ontem eu falei dele”; “São projetos que a direção acredita neles”; “São bons argumentos que concordamos com eles”.
Como se pode verificar, são exemplos extraídos do meio empresarial. É um vício típico da linguagem oral que também aparece na linguagem de profissionais de quem a sociedade espera a chamada língua padrão.
Para quem não entendeu a que vício estou me referindo, eu explico. Há pronomes sobrando. Em “Aqui está o documento que ontem eu falei dele”, o pronome relativo “que” e o pronome pessoal “(d)ele” substituem o mesmo substantivo (=documento). Bastaria usar o pronome relativo. O “dele” está sobrando. A causa é fácil de explicar: o brasileiro, em geral, tem muita dificuldade em respeitar a regência quando usa os pronomes relativos. Temos o hábito de usar simplesmente “que”, mesmo quando a regência do verbo ou do nome exija uma preposição. O uso de “falei dele” comprova que sabemos que a regência do verbo FALAR pede a preposição “de”.
Segundo a língua padrão, em vez de “Aqui está o documento que ontem eu falei”, deveríamos dizer “…o documento de que (ou do qual) eu falei”.
No segundo caso, o pronome “(n)eles” está sobrando. Se a direção acredita “em” projetos, “São projetos em que (ou nos quais) a direção acredita”.
E no terceiro exemplo, em vez de “São bons argumentos que concordamos com eles”, bastaria dizer “…argumentos com que (ou com os quais) concordamos”.

Neologismo - A riqueza dos neologismos - Dúvidas e Dicas de Português - Língua Portuguesa - Matéria Português



A riqueza dos neologismos

O uso de neologismos (=palavras novas, sem registro em nossos dicionários) é sempre um assunto polêmico. Há aqueles que rejeitam qualquer novidade e aqueles que “topam tudo”.
A criação de novas palavras é comum em qualquer língua. É bastante saudável. Há um enriquecimento vocabular e comprova o caráter evolutivo das línguas vivas.
O problema é o modismo, o exagero, o termo desnecessário.
E aqui está, novamente, a dificuldade de ser moderado. O que aceitar ou não? É uma questão muito subjetiva. Mais uma vez estamos diante de um assunto que não pode ser tratado na base do certo ou do errado. Na minha opinião, é uma questão de adequação.
Voltemos ao famoso caso do IMEXÍVEL. Teoricamente o processo de formação da palavra é aceitável: raiz do verbo MEXER + prefixo “i” (=negação) + sufixo “vel” (=possibilidade). Imexível = o que não se pode mexer. Seria o mesmo caso de insubstituível, invisível, invencível, indestrutível… Na prática, entretanto, temos um problema: devido à “fonte criadora”, a palavra imexível carrega consigo uma carga pejorativa, o que torna o seu uso inadequado em determinadas situações. Não acredito que eu venha a encontrá-la em algum texto sério cuja linguagem seja mais formal.
Curiosamente, muitos neologismos são verbos, como ELENCAR, ALAVANCAR, IMPACTAR e outros. Não vejo necessidade de “elencar”, se podemos LISTAR, ENUMERAR, REUNIR, SELECIONAR… Para que “alavancar”, se podemos IMPULSIONAR, ELEVAR ou LEVANTAR?
É importante lembrar que o verbo ALAVANCAR está devidamente registrado em vários dicionários.
Quanto ao IMPACTAR, o problema é outro. No dicionário Michaelis, IMPACTAR significa “tornar impacto, introduzir em outra coisa de modo que seja impossível retirar, penetrar de modo irreversível”. Entretanto, no meio empresarial, encontramos um uso no mínimo duvidoso: “Esta medida está impactando a nossa empresa”. Isso pode ser bom ou ruim. Eu não sei se a carga do verbo impactar é positiva ou negativa.
Para mim, mais importante que a palavra existir ou não em nossos dicionários é a clareza da frase. Se a palavra selecionada deixa a frase com duplo sentido, devemos evitá-la, a menos que a ambiguidade seja a nossa real intenção.
Não sou contra os neologismos, e sim contra os modismos. É importante lembrar que muitos neologismos já foram incorporados à nossa linguagem do dia a dia e hoje estão devidamente registrados em nossos dicionários: agilizar, minimizar, posicionar, sediar…
Devemos, portanto, ter cautela tanto no uso quanto na crítica a quem usa.


Neologismos e hibridismos

Não se assuste. Eu explico: já vimos que neologismos são “palavras novas”, que em geral não aparecem em nossos dicionários. Daí a tendência de muita gente afirmar que a palavra não existe.
Muita gente reclama quanto ao uso de palavras como PROPINODUTO, BIOTERRORISMO e SEQUESTRO-RELÂMPAGO, que, segundo nossos leitores, não existem porque não foram encontratadas em dicionário algum.
É importante que se explique que a existência de uma palavra não depende do registro de um dicionário. A palavra existe a partir do momento em que se faz necessária e os falantes passam a utilizá-la normalmente. Cabe, no caso, aos nossos dicionários fazer o devido registro em suas futuras edições.
A palavra nasce de acordo com a necessidade. Assim como toda criança ao nascer recebe um nome, os fatos novos também merecem “um nome novo”. A palavra BIOTERRORISMO só não aparecia em nossos dicionários porque não havia “terrorismo biológico”. É fato novo, em razão disso: tudo contra o bioterrorismo, mas nada contra a palavra BIOTERRORISMO.
Se inventaram um novo tipo de sequestro, por que não chamá-lo de sequestro-relâmpago? Há muito tempo que, no futebol, se usa “gol-relâmpago” e ninguém reclamou até hoje. Só quem toma o gol, é claro.
Quanto ao PROPINODUTO, achei muito criativo. Juntamos a propina com o DUTO, que vem do latim e significa “que conduz”. Daí o oleoduto, que “conduz óleo”, o gasoduto, que “conduz gás” e o viaduto, que “conduz a via”, e não o que algumas mentes maldosas poderiam imaginar.
Quanto ao fato de misturar elementos de línguas diferentes (propina = português + duto = latim; bio = grego + terrorismo = português), nada contra. Isso se chama hibridismo (= mistura de elementos de diferentes origens) e a nossa língua está cheia de exemplos consagrados: televisão (grego+português), sambódromo (português+grego), camelódromo (português+ grego), automóvel (grego+português), decímetro (latim+grego), burocracia (francês+grego), alcoólatra (árabe+grego)…


 A palavra existe ou não, eis a questão.

O prefixo NEO vem do grego e significa “novo”. NEOLOGISMOS são “palavras novas”, que não estão registradas em nossos dicionários nem no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, publicado pela Academia Brasileira de Letras.
O uso de neologismos costuma gerar muita discussão.
Há quem adore as novidades e não faça restrição alguma ao seu uso, e existem aqueles que só aceitam os neologismos depois de devidamente registrados em algum dicionário. E aqui já temos um novo problema. Para o brasileiro em geral, só há um dicionário: o Aurélio. É, sem dúvida, um dos melhores e dos maiores dicionários do mundo. É bom lembrar que a edição lançada em 1999 apresentava 28 mil novos verbetes. Temos de tomar muito cuidado ao afirmar que tal palavra existe ou não. Quem tem o velho Aurélio pode ser traído por uma nova edição. Recentemente, foi publicada uma nova edição pós-acordo ortográfico.
É importante lembrar também que o dicionário Aurélio apresenta em torno de 180 mil verbetes, que o dicionário Michaelis tem um pouco mais de 200 mil, e que o dicionário Houaiss apresenta aproximadamente 230 mil verbetes. É muito perigoso afirmar que uma palavra existe ou não. Tem que pesquisar.
Usar ou não um neologismo torna-se uma questão um pouco subjetiva. Por exemplo, você gosta do verbo DISPONIBILIZAR? É, sem dúvida, um verbo muito usado no meio empresarial. É adorado por alguns e detestado por outros, principalmente por aqueles que descobriram que DISPONIBILIZAR não estava registrado no velho Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, e que não aparecia em dicionário algum. Um aviso aos navegantes: o verbo DISPONIBILIZAR já está registrado nas novas edições de nossos principais dicionários.
Agora, você decide. Qual é a sua preferência: “O governo vai disponibilizar as verbas necessárias para as obras…” ou “Segundo o governo, as verbas necessárias para as obras estarão disponíveis…”?
A aceitação de um neologismo pode provocar discussões sem fim. É importante lembrar que os neologismos fazem parte da evolução das línguas vivas. Muitas palavras que hoje estão nos nossos dicionários já foram, algum dia, belos neologismos. Foram consagradas pelo uso e abonadas pelo tempo. E aqui, a grande lição: nada como o tempo para provar se a palavra é boa ou não, se é necessária ou não.
Leitor reclama: “Acabo de chegar da cidade de Natal, Rio Grande do Norte, e lá é comum ler-se RETORNO SEMAFORIZADO”.
É como afirmei acima. Só o tempo vai nos dizer se a palavra é boa ou ruim, se ela fica ou não. Tudo que é estranho hoje pode ser muito comum daqui a alguns anos.
E não devemos esquecer que os neologismos enriquecem as línguas. SEMAFORIZADO (palavra já registrada no novíssimo Aurélio) vem de SEMÁFORO, palavra formada por elementos de origem grega: SEMA (=sinal, sentido, significado) e FORO (=que faz, que produz). Para quem não conhece a palavra, SEMÁFORO é o que o carioca chama de “sinal”, o paulista também chama de “farol”, o gaúcho chama de “sinaleira” e assim por diante. Isso é riqueza vocabular.


Neologismo - A riqueza dos neologismos - Dúvidas e Dicas de Português - Língua Portuguesa - Matéria Português



A riqueza dos neologismos

O uso de neologismos (=palavras novas, sem registro em nossos dicionários) é sempre um assunto polêmico. Há aqueles que rejeitam qualquer novidade e aqueles que “topam tudo”.
A criação de novas palavras é comum em qualquer língua. É bastante saudável. Há um enriquecimento vocabular e comprova o caráter evolutivo das línguas vivas.
O problema é o modismo, o exagero, o termo desnecessário.
E aqui está, novamente, a dificuldade de ser moderado. O que aceitar ou não? É uma questão muito subjetiva. Mais uma vez estamos diante de um assunto que não pode ser tratado na base do certo ou do errado. Na minha opinião, é uma questão de adequação.
Voltemos ao famoso caso do IMEXÍVEL. Teoricamente o processo de formação da palavra é aceitável: raiz do verbo MEXER + prefixo “i” (=negação) + sufixo “vel” (=possibilidade). Imexível = o que não se pode mexer. Seria o mesmo caso de insubstituível, invisível, invencível, indestrutível… Na prática, entretanto, temos um problema: devido à “fonte criadora”, a palavra imexível carrega consigo uma carga pejorativa, o que torna o seu uso inadequado em determinadas situações. Não acredito que eu venha a encontrá-la em algum texto sério cuja linguagem seja mais formal.
Curiosamente, muitos neologismos são verbos, como ELENCAR, ALAVANCAR, IMPACTAR e outros. Não vejo necessidade de “elencar”, se podemos LISTAR, ENUMERAR, REUNIR, SELECIONAR… Para que “alavancar”, se podemos IMPULSIONAR, ELEVAR ou LEVANTAR?
É importante lembrar que o verbo ALAVANCAR está devidamente registrado em vários dicionários.
Quanto ao IMPACTAR, o problema é outro. No dicionário Michaelis, IMPACTAR significa “tornar impacto, introduzir em outra coisa de modo que seja impossível retirar, penetrar de modo irreversível”. Entretanto, no meio empresarial, encontramos um uso no mínimo duvidoso: “Esta medida está impactando a nossa empresa”. Isso pode ser bom ou ruim. Eu não sei se a carga do verbo impactar é positiva ou negativa.
Para mim, mais importante que a palavra existir ou não em nossos dicionários é a clareza da frase. Se a palavra selecionada deixa a frase com duplo sentido, devemos evitá-la, a menos que a ambiguidade seja a nossa real intenção.
Não sou contra os neologismos, e sim contra os modismos. É importante lembrar que muitos neologismos já foram incorporados à nossa linguagem do dia a dia e hoje estão devidamente registrados em nossos dicionários: agilizar, minimizar, posicionar, sediar…
Devemos, portanto, ter cautela tanto no uso quanto na crítica a quem usa.


Neologismos e hibridismos

Não se assuste. Eu explico: já vimos que neologismos são “palavras novas”, que em geral não aparecem em nossos dicionários. Daí a tendência de muita gente afirmar que a palavra não existe.
Muita gente reclama quanto ao uso de palavras como PROPINODUTO, BIOTERRORISMO e SEQUESTRO-RELÂMPAGO, que, segundo nossos leitores, não existem porque não foram encontratadas em dicionário algum.
É importante que se explique que a existência de uma palavra não depende do registro de um dicionário. A palavra existe a partir do momento em que se faz necessária e os falantes passam a utilizá-la normalmente. Cabe, no caso, aos nossos dicionários fazer o devido registro em suas futuras edições.
A palavra nasce de acordo com a necessidade. Assim como toda criança ao nascer recebe um nome, os fatos novos também merecem “um nome novo”. A palavra BIOTERRORISMO só não aparecia em nossos dicionários porque não havia “terrorismo biológico”. É fato novo, em razão disso: tudo contra o bioterrorismo, mas nada contra a palavra BIOTERRORISMO.
Se inventaram um novo tipo de sequestro, por que não chamá-lo de sequestro-relâmpago? Há muito tempo que, no futebol, se usa “gol-relâmpago” e ninguém reclamou até hoje. Só quem toma o gol, é claro.
Quanto ao PROPINODUTO, achei muito criativo. Juntamos a propina com o DUTO, que vem do latim e significa “que conduz”. Daí o oleoduto, que “conduz óleo”, o gasoduto, que “conduz gás” e o viaduto, que “conduz a via”, e não o que algumas mentes maldosas poderiam imaginar.
Quanto ao fato de misturar elementos de línguas diferentes (propina = português + duto = latim; bio = grego + terrorismo = português), nada contra. Isso se chama hibridismo (= mistura de elementos de diferentes origens) e a nossa língua está cheia de exemplos consagrados: televisão (grego+português), sambódromo (português+grego), camelódromo (português+ grego), automóvel (grego+português), decímetro (latim+grego), burocracia (francês+grego), alcoólatra (árabe+grego)…


 A palavra existe ou não, eis a questão.

O prefixo NEO vem do grego e significa “novo”. NEOLOGISMOS são “palavras novas”, que não estão registradas em nossos dicionários nem no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, publicado pela Academia Brasileira de Letras.
O uso de neologismos costuma gerar muita discussão.
Há quem adore as novidades e não faça restrição alguma ao seu uso, e existem aqueles que só aceitam os neologismos depois de devidamente registrados em algum dicionário. E aqui já temos um novo problema. Para o brasileiro em geral, só há um dicionário: o Aurélio. É, sem dúvida, um dos melhores e dos maiores dicionários do mundo. É bom lembrar que a edição lançada em 1999 apresentava 28 mil novos verbetes. Temos de tomar muito cuidado ao afirmar que tal palavra existe ou não. Quem tem o velho Aurélio pode ser traído por uma nova edição. Recentemente, foi publicada uma nova edição pós-acordo ortográfico.
É importante lembrar também que o dicionário Aurélio apresenta em torno de 180 mil verbetes, que o dicionário Michaelis tem um pouco mais de 200 mil, e que o dicionário Houaiss apresenta aproximadamente 230 mil verbetes. É muito perigoso afirmar que uma palavra existe ou não. Tem que pesquisar.
Usar ou não um neologismo torna-se uma questão um pouco subjetiva. Por exemplo, você gosta do verbo DISPONIBILIZAR? É, sem dúvida, um verbo muito usado no meio empresarial. É adorado por alguns e detestado por outros, principalmente por aqueles que descobriram que DISPONIBILIZAR não estava registrado no velho Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, e que não aparecia em dicionário algum. Um aviso aos navegantes: o verbo DISPONIBILIZAR já está registrado nas novas edições de nossos principais dicionários.
Agora, você decide. Qual é a sua preferência: “O governo vai disponibilizar as verbas necessárias para as obras…” ou “Segundo o governo, as verbas necessárias para as obras estarão disponíveis…”?
A aceitação de um neologismo pode provocar discussões sem fim. É importante lembrar que os neologismos fazem parte da evolução das línguas vivas. Muitas palavras que hoje estão nos nossos dicionários já foram, algum dia, belos neologismos. Foram consagradas pelo uso e abonadas pelo tempo. E aqui, a grande lição: nada como o tempo para provar se a palavra é boa ou não, se é necessária ou não.
Leitor reclama: “Acabo de chegar da cidade de Natal, Rio Grande do Norte, e lá é comum ler-se RETORNO SEMAFORIZADO”.
É como afirmei acima. Só o tempo vai nos dizer se a palavra é boa ou ruim, se ela fica ou não. Tudo que é estranho hoje pode ser muito comum daqui a alguns anos.
E não devemos esquecer que os neologismos enriquecem as línguas. SEMAFORIZADO (palavra já registrada no novíssimo Aurélio) vem de SEMÁFORO, palavra formada por elementos de origem grega: SEMA (=sinal, sentido, significado) e FORO (=que faz, que produz). Para quem não conhece a palavra, SEMÁFORO é o que o carioca chama de “sinal”, o paulista também chama de “farol”, o gaúcho chama de “sinaleira” e assim por diante. Isso é riqueza vocabular.

A “multagem” eletrônica - Concordância, Dicas de Português, Dúvidas de Português, Língua Portuguesa, Matéria Português, Ortografia, Português


A “multagem” eletrônica

Leitor, indignado com as multas indevidas que diz ter recebido, mostra-se ainda mais revoltado com a palavra “multagem”, que aparece em placas espalhadas por vias de algumas cidades brasileiras.
“Multagem” é um neologismo ainda sem registro em nossos principais dicionários, mas algo deve ser dito em defesa da palavra: ela foi criada em perfeito acordo com os nossos processos de formação de palavras.
Existem vários sufixos para designar “ato ou resultado da ação”: ato de agredir = agressão; ato de deter = detenção; ato de ascender = ascensão; ato de julgar = julgamento; ato de preferir = preferência; ato de lavar = lavagem.
Como podemos observar, há diferentes sufixos para a mesma função. E não há regra lógica que explique por que o ato de colocar é colocação e o de deslocar é deslocamento, por que o resultado da ação de casar é casamento e o de cassar é cassação.
Assim sendo, se o ato de contar é contagem, se o ato de pesar é pesagem, por que o ato de multar não pode ser multagem?
Se a palavra é boa ou ruim, se vai “pegar” ou não, só o tempo dirá.
O simples fato de a palavra não estar em nossos dicionários não significa que ela não exista. Veja o caso de bioterrorismo. Se você consultasse o dicionário Houaiss e o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa publicado pela Academia Brasileira de Letras em 1999, não encontraria registro da palavra bioterrorismo. Isso não significava que ela não existia. Infelizmente o bioterrorismo existe independentemente de a palavra estar ou não registrada em nossos dicionários. A equipe do antigo dicionário Aurélio, atenta a esse fato novo, já havia registrado a palavra bioterrorismo.
Com o adjetivo “imexível”, neologismo criado em 1990 pelo então ministro Rogério Magri, ocorre o contrário: está registrado no dicionário Houaiss e no Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras, mas não aparecia no dicionário Aurélio.
Se você vai usar ou não, é um critério seu. É uma questão de estilo e de adequação da linguagem.
É assim que os neologismos nascem. Alguns sobrevivem, outros não. Quem dá vida às palavras somos nós, falantes da língua portuguesa.

Vírgula - Se beber, não use o ponto e vírgula - Uso da vírgula


 Se beber, não use o ponto e vírgula


Em frente ao Hospital Pinel, no Rio de Janeiro, há um painel luminoso da CET-Rio. Com certa frequência, lá encontrávamos a seguinte mensagem:
“Se dirigir; não beba
se beber; não dirija”
Certamente o hospital não tem culpa alguma. Louco ou bêbado estava quem escreveu a tal frase. Não pela mensagem em si, mas pela pontuação da frase. Provavelmente alguém disse para o autor: “Olha, tem um ponto e vírgula aí.” E o “letrado”, por garantia, tascou logo dois.
Ora, onde encontramos o ponto e vírgula bastaria a vírgula, pois se trata de uma oração subordinada adverbial condicional deslocada: “Se dirigir, não beba”. O uso do ponto e vírgula seria perfeito entre as duas ideias, apontando, assim, uma pausa maior que a vírgula:
“Se dirigir, não beba; se beber, não dirija.”
É para isso que serve o ponto e vírgula: para indicar uma pausa maior que a vírgula e não tão forte quanto o ponto-final.
Portanto, o autor da frase acaba de perder 3 pontos na sua carteira de habilitação, por uma infração média contra a gramática.
Para que serve o ponto e vírgula?
Fundamentalmente, o ponto e vírgula indica uma pausa maior que a vírgula.
Vejamos as situações em que o seu emprego é mais frequente:
1a) para separar os membros de um período longo, especialmente se um deles já estiver subdividido por vírgula:
“Na linguagem escrita é o leitor; na fala, o ouvinte.”
“Nas sociedades anônimas ou limitadas existem problemas: nestas, porque a incidência de impostos é maior; naquelas, porque as responsabilidades são gerais.”
2a) para separar orações coordenadas adversativas (=porém, contudo, entretanto) e conclusivas (=portanto, logo, por conseguinte):
“Ele trabalha muito; não foi, porém, promovido.” (indica que a primeira pausa é maior, pois separa duas orações)
“Os empregados iriam todos; não havia necessidade, por conseguinte, de ficar alguém no pátio.”
3a) para separar os itens de uma explicação:
“A introdução dos computadores pode acarretar duas consequências: uma, de natureza econômica, é a redução de custos; a outra, de implicações sociais, é a demissão de funcionários.”
4a) para separar os itens de uma enumeração:
“Deveremos tratar, nesta reunião, dos seguintes assuntos:
a)    cursos a serem oferecidos, no próximo ano, a nossos empregados;
b)    objetivos a serem atingidos;
c)    metodologia de ensino e recursos audiovisuais;
d)    verba necessária.

Concordância e Ortografia - Dúvidas e Dicas de Português - Parte 6 - Língua Portuguesa - Matéria Português



Dúvida 

1. Serrar ou cerrar?

Se você se refere ao ato de cortar com serra ou serrote,
o verbo é serrar com “s”. Por outro lado, se o objetivo é fechar alguma coisa,
devemos cerrar com “c”.
Veja que perigo!
Comerciante deu ordem por escrito a seus empregados:
“Hoje quero todas as portas desta loja serradas exatamente às 20h”.
(serradas com “s”).
Foi atendido. No dia seguinte, ao voltar à loja, encontrou todas as portas serradas com “s”, ou seja, cortadas… Se ele queria as portas fechadas, deveria ser cerradas com “c”.
Outro perigo é a falta de visibilidade quando a neblina está muito forte. Quero saber se a cerração que ocorre com freqüência na serra é com “s” ou com “c”?
Se a neblina ou nevoeiro está muito forte, sem visibilidade, é porque há muita cerração com “c”. Não há relação alguma entre o fato de serra se escrever com “s” e a cerração, que vem de cerrar, no sentido de fechar, que se escreve com “c”.
Serração com “s” haveria, se muitas árvores estivessem sendo serradas, ou seja, serração com “s” é o ato de serrar, cortar.
Certa vez, li num bom jornal:
“Atleta serrou (com “s”) os punhos e vibrou intensamente”. Só se foi de dor!
É melhor, antes de vibrar, cerrar (com “c”, ou seja, fechou) os punhos.
E melhor mesmo é encerrar esse assunto.
Então não esqueça:
Serrar com “s” é cortar; cerrar com “c” é fechar.
Serração com “s” é o ato de “serrar com “s”, cortar”.
E a neblina, o nevoeiro forte é cerração com “c”.

2. Palavra de rei se discute

Rex, regis, do latim, deu origem em português ao nosso REI. Daí palavras derivadas como regente (príncipe regente), regência (tríplice regência), Regina (rainha, em latim)…
Em gramática, regência é a parte que estuda o uso das preposições. É ela que nos diz qual preposição o nome exige e, no caso dos verbos, se há preposição ou não. É a regência que nos diz se o verbo é transitivo direto ou indireto.
Como é “coisa de rei”, ninguém pergunta por que devemos “fazer referência a”, “ter necessidade de”, “ser ávido por”, “ser semelhante a”… Ninguém quer saber por que verbos como VER, COMPRAR e ENCONTRAR são transitivos diretos, e GOSTAR DE, ACREDITAR EM, ANSIAR POR e CONCORDAR COM são transitivos indiretos.
Ninguém discute a regência de verbos e de nomes em que o uso da preposição na linguagem cotidiana está de acordo com o que ensinam as gramáticas normativas.
A regência merece discussão quando há divergência entre o que diz a tradição gramatical e o uso do nosso dia a dia.
Existem vários verbos nesse caso. Vejamos dois exemplos:
1º) IMPLICAR, no sentido de “resultar, acarretar, ter como
consequência”, segundo a gramática tradicional (Evanildo Bechara, Antônio Houaiss…) é verbo transitivo direto: “Isto implica erros grosseiros”; “Esta decisão implicará pagamento antecipado”.
A realidade, porém, tem-nos mostrado a presença constante da preposição “em”: “implica em erros grosseiros”; “implicará em pagamento antecipado”.
Este é o nosso problema: de acordo a regência clássica, IMPLICAR
é transitivo direto; segundo os linguistas modernos, também podemos usar o verbo IMPLICAR como transitivo indireto. Você decide.
É importante lembrar que, em nossos concursos oficiais, devemos considerar IMPLICAR um verbo transitivo direto.
2º) VISAR é outro verbo que merece atenção. Com o sentido de
“dar visto, rubricar” ou de “mirar, apontar”, todos concordam que VISAR é verbo transitivo direto: “visar o cheque”; “visar todas as páginas da escritura”; “visar o alvo”; “visar o gol”.
A polêmica ocorre quando usamos o verbo VISAR com o sentido de “ter por fim ou objetivo”. Nesse caso, segundo a tradição (Evanildo Bechara, dicionário Aurélio…), VISAR é transitivo indireto: “visar ao bem-estar de todos”; entretanto, hoje em dia, muitos estudiosos, inclusive o dicionário Houaiss, já aceitam o verbo VISAR como transitivo direto ou indireto: “visar ao bem-estar” ou “visar o bem-estar de todos”.
Os verbos IMPLICAR e VISAR são apenas dois exemplos de que
podemos questionar a regência clássica, de como “se discute a palavra de rei”.
Não vejo nada errado nesta discussão. Crime, no meu modo de ver, é cobrar assuntos polêmicos em concursos públicos.




1.     Sito À ou NA Avenida Paulista
O uso das preposições sempre dá muita dor de cabeça.
Já sabemos que se entrega alguma coisa (=objeto direto) a alguém (=objeto indireto): “O rapaz entregou os documentos ao diretor”. Quando nos referimos ao lugar da entrega, devemos entregar “em algum lugar”. Assim sendo, as entregas devem ser feitas “em domicílio”, da mesma forma que faríamos as entregas “em casa, no lar, no escritório, no quarto do hotel, no apartamento 209”.
Com os verbos morar, residir, situar e com os adjetivos residente e domiciliado, também devemos usar a preposição “em”. Quem mora sempre mora “em algum lugar”; quem é residente e domiciliado é residente e domiciliado “em” algum lugar.
Em linguagem “cartorial”, é frequente lermos coisas do tipo: “Fulano de Tal, residente e domiciliado à Rua das Palmeiras”; “Dr.Beltrano de Tal, com escritório sito à Avenida Paulista…”
Se, em vez de rua ou avenida, tivéssemos um substantivo masculino, ninguém diria: “Fulano de Tal, residente e domiciliado “ao” Beco das Garrafas”; “Dr. Beltrano de Tal, com escritório sito “ao” Largo do Machado…”
Se o Fulano de Tal é residente e domiciliado “no” Beco das Garrafas e se o Dr. Beltrano de Tal tem escritório sito “no” Largo do Machado, por uma questão mínima de coerência, o primeiro deve ser residente e domiciliado “na” Rua das Palmeiras e o outro deve ter escritório sito “na” Avenida Paulista. E, para ficar melhor ainda, em vez do “burocrático” sito, use “situado na Avenida Paulista”. É correto e muito mais simples e claro.
Outro exemplo de “burocratês” é o tal de “à folhas 23 e 24”. Primeiro, o uso do acento indicativo da crase não se justifica, pois certamente não há artigo definido. No mínimo, deveria ser “às folhas 23 e 24”. Melhor seria “nas folhas 23 e 24”.
E, pior ainda, é “à folhas 23”. Nesse caso, não há defesa. Não seria mais simples dizer “na folha 23”?

2.    A preposição esquecida
Todos vocês, provavelmente, foram obrigados a decorar uma famosa lista: a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre…
Se isso já faz muito tempo, eu refresco a sua memória: são as preposições.
É bom recordar, porque muita gente boa deve ter esquecido as coitadinhas.
Alguns confundem “com” e “contra”. Você sabe quando é que o Flamengo vai jogar com o Vasco? Nunca! Eternamente um jogará contra o outro. Num jogo de tênis, se o Gustavo Kuerten jogar com o Fernando Melligeni, é jogo de duplas; se o Guga jogar contra o Melligeni, é jogo de simples. Eles serão adversários.
Há quem confunda sob (embaixo) e sobre (por cima). Uma lágrima só correrá “sob a face” se for um “choro interno”. Certamente a lágrima correrá sobre a face.
Há, ainda, aqueles que simplesmente ignoram a preposição “a”. Temos uma propaganda em que a loja oferece para seus fregueses “cheques só para daqui 45 dias”. Frase sem preposição merece cheque sem fundos. Devemos dizer “daqui a 45 dias”. É o mesmo caso de “de hoje a uma semana”, “de janeiro a dezembro”. Portanto, o cheque deve ser para “daqui a 45 dias”.
Outro caso em que a preposição “a” está definitivamente esquecida é o famoso “lava jato”. Nesse caso, de duas, uma: ou “lava a jato” ou criamos um novo substantivo composto “lava-jato” (necessariamente com hífen).
E por fim o caso do “vivo”, que podemos observar no canto da telinha quando temos uma transmissão “ao vivo”. Ora, se a transmissão é sempre ao vivo (nenhum canal de televisão transmite “vivo”), de onde saiu a mania de usar somente “vivo”?
Alguns alegam problema de espaço na telinha. Não acredito. Para mim, deve ter sido mais uma “macaquice” nossa, mais uma imitação dos modelos americanos. Se eles usam simplesmente “live”, que fizemos nós? Trocamos o correto “ao vivo” pelo questionável “vivo”.
Pelo menos a Rede Globo, devidamente alertada, e depois de muito sofrimento, timidamente começa a mudar. Já tivemos a oportunidade de ver o “ao vivo” em algumas transmissões recentes.
Temendo pela extinção, é bom lançarmos uma nova campanha: “Salvem as preposições”.


3.    DELE ou DE ELE?
Não há dúvida alguma: eu cheguei antes dele, eu gosto dele e o livro é dele.
A polêmica surge quando “eu chego antes DELE ou DE ELE sair”. De acordo com a gramática normativa, a forma “dele” não pode ser sujeito da oração, porque não há “sujeito preposicionado”. Assim sendo, se houver após o “dele” um verbo no infinitivo, devemos separar a preposição do pronome na função do sujeito: “Eu cheguei antes DE ELE sair”.
Essa regra, entretanto, não é rígida. No Brasil, não há dúvida de que a forma mais usada é “cheguei antes dele sair”. É assim que a maioria dos brasileiros fala. O mestre Adriano da Gama Kury, entre outros estudiosos ilustres do nosso idioma, considera a forma preposicionada (=cheguei antes dele sair) uma variante linguística válida.
É o mesmo caso de “está na hora da onça beber água”. Diz o mestre Evanildo Bechara: “A lição dos bons autores nos manda aceitar ambas as construções, de a onça beber água e da onça beber água”.
Por outro lado, é importante observar que, em geral, os concursos públicos exigem a forma tradicional: “Cheguei antes de ele sair”; “Está na hora de a onça beber água”.
O mesmo se aplica à contração da preposição com o artigo: “O bando invadiu o Banco do Brasil antes de a agência abrir”; “O diretor viajou para Brasília apesar de a reunião ter sido transferida”; “A possibilidade de os políticos não aceitarem o projeto é muito grande”…
Resumindo: o segredo para a separação da preposição do artigo ou do pronome é a presença do verbo, sempre no infinitivo.




1.    O verbo ADEQUAR é defectivo ou não?

Todos nós aprendemos que o verbo ADEQUAR é defectivo, ou seja, é defeituoso, não tem conjugação completa.
A dúvida se deve ao fato de o dicionário Houaiss considerar completa a conjugação do verbo ADEQUAR.
É polêmica na certa.
A realidade é que, para a maioria dos nossos gramáticos, o verbo ADEQUAR é defectivo: no presente do indicativo, só tem a primeira pessoa do plural (=nós adequamos) e a segunda pessoa do plural (=vós adequais); no presente do subjuntivo, não há pessoa alguma. É essa a visão dos professores que organizam a maioria dos nossos concursos.
Há, entretanto, um bom número de estudiosos, entre eles a equipe que organizou o dicionário Houaiss, que já aceita a conjugação completa do verbo ADEQUAR:
PRESENTE DO INDICATIVO / PRESENTE DO SUBJUNTIVO
Eu adéquo                                que eu adéque
Tu adéquas                              que tu adéques
Ele adéqua                               que ele adéque
Nós adequamos                       que nós adequemos
Vós adequais                           que vós adequeis
Eles adéquam                          que eles adéquem
Segundo a tradição gramatical, entretanto, o verbo ADEQUAR é defectivo. Verbo defectivo é aquele que tem defecção (=falta de algumas formas). O verbo ADEQUAR, por exemplo, só apresenta as formas arrizotônicas (=sílaba tônica fora da raiz). Em termos práticos, significa que não tem as três pessoas do singular e a 3a do plural (=eu, tu, ele e eles) do presente do indicativo e, consequentemente, nada no presente do subjuntivo.
Para ficar bem claro:
PRESENTE DO INDICATIVO  /   PRESENTE DO SUBJUNTIVO
Eu        -                                                -
Tu        -                                                -
Ele       -                                                -
Nós adequamos                                   -
Vós adequais                                        -
Eles      -                                               -
Nos tempos do pretérito e do futuro, tudo normal: ele adequou, adequava, adequara, adequará, adequaria, adequando, adequado…

Numa frase do tipo “É preciso que a nossa empresa SE ADÉQUE ou SE ADEQÚE à realidade do mercado”, a solução é: “…que a nossa empresa FIQUE ADEQUADA à realidade do mercado”.


2. Verbos, verbos, verbos…

Outro verbinho “problemático” é o EXTORQUIR. Além de defectivo (=eu “extorco” não existe), temos um problema semântico.
O verbo EXTORQUIR vem do latim extorquere (=arrancar alguma coisa de alguém sob tortura). O prefixo “ex” significa movimento para fora (=arrancar) e torquere é torcer (=implícita aqui a ideia de tortura). Isso significa que o verbo EXTORQUIR, desde a sua origem, é usado como “arrancar”.
É correto, portanto, quando ouvimos que “o policial extorquiu a confissão do criminoso” ou “o sequestrador está extorquindo dinheiro da família do empresário”. Inadequado é “alguém extorquir alguém”. Na frase “bandido está extorquindo comerciante”, temos o mau uso do verbo extorquir.
Para você não errar, use o seguinte “macete”: só use o verbo EXTORQUIR se ele for substituível por “arrancar”.
Observe a diferença:
“…extorquir a confissão do criminoso” = “arrancar a confissão”; “…extorquir dinheiro da família” = “arrancar dinheiro”;
“…extorquir o comerciante” = inadequado, porque não é possível “arrancar” o comerciante;
“…extorquir a família do sequestrado” = inadequado também,
porque não é possível “arrancar” a família do sequestrado.
Outros verbos que merecem atenção são EXPLODIR, ABOLIR e DEMOLIR. São todos defectivos: só existem nas formas verbais em que após a raiz aparecem as vogais “e” ou “i”: explode, explodem, explodindo, abolimos, abolido, demolimos, demoliu, demolindo…
Assim sendo, rigorosamente não “existem” formas como “expludo ou explodo, abulo ou abolo, demula ou demola”.


3. Ele foi PEGO ou PEGADO em flagrante?

Existem alguns verbos que nos deixam de cabelo em pé: GANHO ou GANHADO, GASTO ou GASTADO, PAGO ou PAGADO, PEGO ou PEGADO?
Alguns gramáticos defendem o uso exclusivo das formas clássicas: GANHADO, GASTADO, PAGADO e PEGADO. Outros preferem o uso exclusivo daquelas formas que o brasileiro consagrou: GANHO, GASTO, PAGO e PEGO.
Há ainda os moderados. São aqueles que aceitam as duas formas de acordo com a regra dos particípios abundantes:
Após os verbos TER ou HAVER, devemos usar a forma
clássica: tinha aceitado, havia suspendido, tinha ganhado, havia gastado, tinha pagado;
Após os verbos SER ou ESTAR, usamos a forma irregular: foi
aceito, estava suspenso, fora ganho, era gasto, será pago.
O mestre Celso Cunha defende o uso de ganho, gasto e pago após qualquer verbo auxiliar: ser ou ter ganho, ser ou ter gasto. Assim sendo, “a conta foi paga”, mas “ele tinha pago ou pagado a conta”.
Concordo com o professor Celso Cunha. Não podemos jogar no lixo as formas clássicas nem ignorar as novidades linguísticas. Incluo ainda o verbo PEGAR. A forma PEGADO estará sempre correta, mas a forma PEGO está consagradíssima: “Ele tinha PEGADO os documentos” e “Ele foi PEGO em flagrante”.
Inaceitáveis ainda são as tais histórias de “ele tinha chego” e “ele tinha trago”. Nesse caso, no padrão culto da língua portuguesa, as formas clássicas estão preservadas: “ele tinha chegado” e “ele tinha trazido”.



1.    Os infinitivos devem flexionarem ou não flexionar???

Nas locuções verbais, usamos o infinitivo impessoal, ou seja,
aquele que não se flexiona nunca: “Os infinitivos não DEVEM FLEXIONAR-SE”; “Os alunos VÃO SAIR mais cedo”; “Os dois zagueiros PODEM SER expulsos”.
Devemos tomar um cuidado especial quando as palavras estão fora de lugar ou quando a locução verbal fica separada por uma intercalação qualquer: “As crianças FORAM todas TOMAR banho”; “Os políticos DEVERIAM, devido à urgência, ANALISAR melhor este caso”. De qualquer modo, o infinitivo, em locuções verbais, não se flexiona.
Fora das locuções verbais é que o infinitivo provoca problemas:
“Os técnicos estão aqui para RESOLVER ou RESOLVEREM o problema”???
Embora alguns autores aceitem a concordância no plural, eu sou a favor do uso do infinitivo não flexionado, ou seja, no singular. Existe uma antiga regrinha que defende o uso do infinitivo no singular sempre que o seu sujeito for o mesmo da oração anterior: 1ª oração: “Os técnicos estão aqui” (sujeito = os técnicos); 2ª oração: “para resolver o problema” (sujeito oculto = eles, os técnicos).
O infinitivo só é obrigado a se flexionar (=ir para o plural) se o seu sujeito for diferente do sujeito da oração anterior: “O diretor deu uma ordem expressa para os técnicos RESOLVEREM o problema ainda hoje”. Quem deu a ordem foi o diretor (= sujeito da primeira oração), mas quem vai resolver o problema são os técnicos (= sujeito da segunda oração).



2. Ele mandou as pessoas SAIR ou SAÍREM?

Eis um belo caso polêmico.
1) Há quem afirme que a flexão do infinitivo é obrigatória: “Mandou as pessoas saírem”. O argumento é simples: quem mandou foi “ele” (sujeito), mas quem vai sair são “as pessoas” (sujeito plural da segunda oração). Seria o mesmo caso de “Nós (sujeito) deixamos as secretárias (sujeito) resolverem o caso”.
2) Há quem defenda a tradição gramatical: após verbos causativos e sensitivos (=mandar, deixar, fazer, ver, ouvir), o infinitivo não se flexiona: “Ele mandou as pessoas sair” e “Nós deixamos as secretárias resolver o caso”.
3) A tendência da maioria dos estudiosos é aceitar as duas formas. Seria, portanto, um caso de concordância facultativa.
Esta dúvida é bem marcante quando o sujeito do infinitivo aparece anteposto (antes do infinitivo): “…mandou as pessoas sair ou saírem”; “…deixamos as secretárias resolver ou resolverem o caso”.
Quando o sujeito do infinitivo aparece posposto (depois do infinitivo) ou expresso por um pronome pessoal oblíquo, é flagrante a preferência pelo uso do infinitivo não flexionado: “Deixai VIR a mim as criancinhas”; “Ele mandou-as SAIR”.
Para facilitar nosso dia a dia, minha sugestão é a seguinte:
Se o sujeito vier claramente expresso antes do infinitivo, a concordância deve ser feita:
“O diretor mandou seus funcionários SAÍREM.”
“O plano fez preços DESPENCAREM.”
Se o sujeito não vier claramente expresso antes do infinitivo, a concordância é facultativa. A preferência é deixar o infinitivo no SINGULAR:
“Deixai VIR a mim as criancinhas.”
“Mandei ENTRAR todos os convidados.”
Se o sujeito do infinitivo for expresso por um pronome oblíquo (=os, as, nos…), devemos usar o verbo no SINGULAR:
“Mandei-os ENTRAR.”
“Ele não as deixou FALAR.”

3. A persistirem ou AO persistirem os sintomas…

Na televisão, após a propaganda de qualquer medicamento, aparece a seguinte mensagem: “A persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado”. A dúvida surge porque, às vezes, a mensagem é: “Ao persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado”.
Leitores querem saber qual é a forma correta: “A persistirem os sintomas” ou “AO persistirem os sintomas”?
A minha preferência é “a persistirem os sintomas”, pois temos aqui uma ideia condicional: “se persistirem os sintomas”, “caso persistam os sintomas”.
Não é que a forma “ao persistirem os sintomas” esteja errada. Quando usamos a forma “ao” antes de verbo no infinitivo, temos uma ideia temporal, e não condicional. É como se disséssemos “quando os sintomas persistirem”. Seria semelhante ao caso de “ao sair, apague a luz”, ou seja “quando sair, apague a luz”.
O pecado maior, portanto, não é o fato de a frase estar certa ou errada, é a falta de clareza. Afinal, é para consultar o médico se os sintomas persistirem ou quando os sintomas persistirem?
É a mania de falar difícil. É o ultrapassado conceito de que falar bem é falar difícil. Seria muito mais simples e claro se a mensagem fosse: “se os sintomas continuarem, consulte um médico”.
Uma certeza, porém, todos nós devemos ter: consultar um médico.
Melhor mesmo é toda a população brasileira ter acesso a um médico e abandonar o perigoso hábito da automedicação. Sob orientação médica, os sintomas provavelmente não persistirão.

Concordância e Ortografia - Dúvidas e Dicas de Português - Parte 5 - Língua Portuguesa - Matéria Português


1. As luzinhas ou as luzezinhas de Natal?

Os sufixos diminutivos “-inho” e “-zinho” devem ser usados conforme o final da palavra básica: usamos indiferentemente os sufixos “-inho” ou “-zinho” se a palavra básica termina por vogal átona ou consoante (exceto “s” e “z”): corpinho ou corpozinho, florinha ou florzinha.
Embora a palavra DEVAGAR seja advérbio, no português falado no Brasil consagrou-se o seu uso no diminutivo em lugar do superlativo. Em vez de “muito devagar”, temos o “devagarinho” e o “devagarzinho”.
É flagrante a preferência pelo uso do sufixo “-inho” para as palavras terminadas por vogal átona (sapato-sapatinho, casa-casinha, dente-dentinho) e do sufixo “-zinho” para as terminadas por consoante (mar-marzinho, papel-papelzinho).O sufixo “-inho” deve ser usado para as palavras terminadas por “s” ou “z” (lápis-lapisinho, cruz-cruzinha, rapaz-rapazinho).
Devemos usar o sufixo “-zinho” para as palavras terminadas por
vogal tônica, nasal ou ditongo (café-cafezinho, siri-sirizinho, irmã-irmãzinha, bem-benzinho, álbum-albunzinho, mão-mãozinha, pônei-poneizinho, chapéu- chapeuzinho).

Quanto ao plural dos diminutivos, há duas regras básicas:
1a) Se usamos o sufixo “-inho”, basta a desinência “s” no final: livro – livr + inho = livrinhos; casa – cas + inha = casinhas; rapaz – rapaz + inho = rapazinhos;
2a) Se usamos o sufixo “-zinho”, devemos pôr os dois elementos no plural sem o “s” do substantivo: animal = animal + zinho – animai(s) + zinhos = animaizinhos; pastel = pastel + zinho – pastei(s) + zinhos = pasteizinhos; pão = pão + zinho – pãe(s) + zinhos = pãezinhos.
Assim sendo, de acordo com as regras, teríamos: luz – luz + inha = luzinhas e flor – flor + zinha – flore(s) + zinhas = florezinhas.

Para terminar duas observações:
1a) Para o acadêmico Evanildo Bechara, pazinhas é o plural do diminutivo de pá (pazinha = pá + zinha – pazinhas). E pazezinhas seria o plural do diminutivo de paz (pazinha = paz + inha – paze(s) + inhas = pazezinhas). Em razão disso, também deveríamos aceitar as luzezinhas (luz + inha – luze(s) + inhas = luzezinhas).
2a) Para o mestre José Oiticica, o normal seria “florinhas ou florzinhas”, que a língua padrão evita.
Por isso tudo, não vejo por que impor uma forma como correta e outra como errada. Em razão disso, podemos aceitar os dois plurais: florezinhas e florzinhas, barezinhos e barzinhos, luzinhas e luzezinhas.

2. Um milhão de dúvidas ou mil dúvidas?

Num anúncio comercial, foi possível ouvir claramente: “Isto é para atender as minhas milhares de fãs”, dizia o primeiro. E o outro retrucava: “E isto é para as minhas milhões de fãs”.
Sinto muito desapontar os nossos artistas, mas o correto é “os meus milhares de fãs” e “os meus milhões de fãs”, mesmo se os fãs forem apenas mulheres.
O problema é que MILHAR, MILHÃO, BILHÃO, TRILHÃO … são substantivos masculinos. Os artigos, pronomes ou numerais que antecedem a MILHAR e MILHÃO devem, portanto, ficar no masculino: “OS MILHARES de crianças fugiam com muito medo”; “Mais de DOIS MILHÕES de pessoas assistiram ao espetáculo”, “Seria capaz de fazer UM MILHÃO e MEIO de embaixadinhas”.
Assim sendo, as frases “Tenho uma milhão de dúvidas” e “Umas três milhões de mulheres” estão erradas. O certo é: “Tenho UM MILHÃO de dúvidas” e “UNS três MILHÕES de mulheres”.
Quanto ao numeral MIL, o problema é outro: não se usa UM ou UMA antes de MIL. Não há necessidade de se escrever “Recebeu um mil reais”, “Uma mil pessoas compareceram à feira” ou “Tenho uma mil dúvidas”. Basta: “Recebeu mil reais”, “Mil pessoas compareceram à feira” e “Tenho mil dúvidas”. É importante lembrar que o numeral que antecede a MIL deve concordar em gênero com o substantivo a que se refere: “DUAS mil pessoas receberam DOIS mil dólares”; “Tenho DUAS mil dúvidas” e “O garoto fez quarenta e UMA mil, SETECENTAS e oitenta e DUAS embaixadinhas”.
Um milhão de pessoas já CHEGOU ou CHEGARAM?
Tanto faz. O verbo pode ficar no singular para concordar com MILHÃO, que é um substantivo masculino no singular, ou no plural para concordar atrativamente com o especificador “pessoas”.
Quando o verbo é de ligação (ser, estar, andar, ficar, continuar…), é visível a preferência pela concordância com o especificador: “Um milhão de reais FORAM GASTOS na obra”; “Meio milhão de crianças já FORAM VACINADAS”; “Um milhão de mulheres ESTÃO GRÁVIDAS”.
Alguém diria que “Um milhão de mulheres ESTÁ GRÁVIDO”???

Concordância e Ortografia - Dúvidas e Dicas de Português - Parte 4 - Língua Portuguesa - Matéria Português



1. A dona-de-casa ou a dona de casa?

Dona de casa sofre até na hora de ser escrita. É com hífen ou não?
Segundo o dicionário Aurélio, devíamos usar hifens (ou hífenes, como preferem alguns): dona-de-casa. O dicionário Houaiss nos ensinava que devíamos escrever sem hífen: dona de casa.
E agora, que fazer?
De acordo com as regras ortográficas anteriores ao novo acordo, devíamos ligar por hífen “os elementos das palavras compostas em que se mantém a noção da composição, isto é, os elementos das palavras compostas mantêm a sua independência fonética, conservando cada um a sua própria acentuação, porém formando o conjunto perfeita unidade de sentido”.
Dentro desse princípio, devíamos usar o hífen nas palavras compostas em que os elementos, com a sua acentuação própria, não conservam, considerados isoladamente, a sua significação, mas o conjunto constitui uma unidade semântica.
Para ficar mais claro, é interessante observarmos um exemplo inquestionável: copo-de-leite e copo de leite.
Em copo de leite, sem hífen, cada elemento mantém a sua significação: copo é copo e leite é leite; em copo-de-leite, com hifens, temos um conjunto com uma nova unidade de sentido: copo-de-leite é uma planta.
A dúvida quanto à dona de casa era se o conjunto forma uma unidade de sentido ou se cada elemento conserva isoladamente sua significação.
Esse tipo de dúvida acabou com o novo acordo ortográfico. A partir de agora, os compostos com elemento de conexão só receberão hifens se for palavra ligada à botânica ou à zoologia: copo-de-leite, banana-da-terra, joão-de-barro, galinha-d’Angola…
Isso significa que os compostos com elementos de conexão que não são nomes de animais ou plantas devem ser grafados sem hífen: pé de moleque, pé de cabra, general de divisão, pão de ló, fim de semana, disse me disse, dia a dia, passo a passo…

Assim sendo, agora não há mais dúvida: DONA DE CASA deve ser escrita sem hifens.

2. Não confunda gênero com sexo

Cadeira é um substantivo feminino e banco é masculino. Por mais que você examine uma cadeira e um banco, não encontrará nenhum sinal do sexo feminino na cadeira nem do sexo masculino no banco. Bancos e cadeiras não mantêm relações sexuais para fazer “banquinhos”!!!
Cadeira não é um substantivo feminino porque termina em “a”. Existem várias palavras terminadas em “a” que são masculinas: o problema, receber um tapa, dar dois telefonemas, duzentos gramas de presunto…
A distinção do gênero nos substantivos não tem fundamentos racionais. Quem determina o gênero é a tradição fixada pelo uso. A comparação com outras línguas, mesmo de origem latina, comprova a inconsistência do gênero gramatical: a viagem / el viaje (espanhol); o sangue / la sangre (espanhol), la sang (francês)…
Nossos leitores têm algumas dúvidas:
1a) Personagem é masculino ou feminino?
2a) Qual é o feminino de poeta: a poetisa ou a poeta?
Chamamos de SOBRECOMUNS os nomes de um só gênero gramatical que se aplicam, indistintamente, a homens e a mulheres: o cônjuge, o indivíduo, o sósia, a criança, a pessoa, a vítima…
São chamados de COMUNS DE DOIS os substantivos que têm uma só forma para os dois sexos. A distinção é feita pela anteposição de “o”, para o masculino, e “a”, para o feminino: o/a artista, o/a doente, o/a mártir, o/a jovem…
Na sua origem, PERSONAGEM era um substantivo sobrecomum do gênero feminino, ou seja, “a personagem” poderia ser usada tanto para a mulher quanto para o homem. Hoje em dia, porém, PERSONAGEM tornou-se um substantivo comum de dois: a personagem, para mulheres, e o personagem, para homens. O dicionário Houaiss e o Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras consideram PERSONAGEM substantivo de dois gêneros, ou seja, o/a personagem.
Quanto ao feminino de POETA, temos uma bela polêmica. Segundo a tradição e os nossos principais dicionários, o feminino de poeta é POETISA. Recentemente, no meio artístico, tornou-se moda distinguir A POETISA (=pessoa do sexo feminino que faz poesia) de A POETA (=mulher que faz poesia de reconhecida qualidade literária). Trata-se de um juízo de valor que ainda não tem o respaldo da maioria dos estudiosos e de nossos principais dicionários. Se essa moda “vai pegar”, só o tempo dirá.
Segundo o mestre e acadêmico Evanildo Bechara:
a)    são masculinos: o…clã, champanha, dó, formicida, grama (unidade de massa/peso), milhar, pijama, sósia, telefonema…
b)    são femininos: a…aguardente, alface, análise, bacanal, cal, cólera, dinamite, libido, síndrome, faringe…
c)    são indiferentemente masculinos ou femininos: o ou a…avestruz, crisma, diabete, gambá, hélice, ordenança, personagem, sabiá, sentinela, soprano, suéter, tapa, trama…

Concordância e Ortografia - Dúvidas e Dicas de Português - Parte 3 - Língua Portuguesa - Matéria Português



A dúvida é: O jantar será na antivéspera ou antevéspera do Natal?
A resposta é: O jantar será na antevéspera do Natal.
Não devemos confundir os prefixos “anti” e “ante”. O prefixo “anti” tem o sentido de “oposição, contra”: antivírus, antiaéreo, antiético, anti-herói, antirrepublicano, antídoto, antítese… O prefixo “ante” significa “anterioridade”: anteontem, antepenúltimo, antevéspera, antediluviano… Não há “antivéspera”, porque o jantar não tem nada contra a véspera do Natal. O jantar será no dia que antecede a véspera do Natal, portanto na antevéspera.
Uma empresa carioca comunicou aos seus empregados: “A nossa ceia de Natal será na próxima quinta-feira, às 13h.” Acho muito bonito o fato de empresas oferecerem ceias de Natal aos seus empregados. Só fiquei preocupado com o horário. Se não me falha a memória, ceias sempre foram noturnas. Às 13h, é melhor fazer um almoço.

A dúvida é: Recebeu 1,2 bilhões ou bilhão de reais?
A resposta é: Recebeu 1,2 bilhão de reais.
Com muita frequência observamos, em nossos jornais e revistas, o uso dessas formas abreviadas para altos valores. Não há espaço para escrever por extenso e a quantidade de zeros poderia dificultar o entendimento do leitor. A abreviação é válida, mas merece cuidados, pois o milhão, bilhão, trilhão, etc. referem-se ao algarismo que antecede a vírgula. Assim sendo, o correto é “1,2 bilhão” porque significa “um bilhão e duzentos milhões; “1,3 milhão” significa “um milhão e trezentos mil”; “1,7 trilhão” significa “um trilhão e setecentos bilhões”.

A dúvida é: Aqui estão as cláusulas que faltavam ou faltava incluir no contrato?
A resposta é: Aqui estão as cláusulas que faltava incluir no contrato.
O verbo (= faltava) deve ficar no singular para concordar com o seu sujeito (= incluir no contrato). O que faltava era “incluir as cláusulas no contrato”, e não “as cláusulas”.
Qual é a sua opinião: “Falta ou Faltam cinco minutos para acabar o jogo”? Embora muitos digam que “falta cinco”, o certo é “faltam cinco minutos”. O verbo (= faltam) deve ir para o plural para concordar com o seu sujeito plural (= cinco minutos).
Não podemos, entretanto, confundir os casos. Em “Falta resolver cinco questões”, o verbo (= falta) deve ficar no singular porque o seu sujeito é “resolver cinco questões”. Não são as “cinco questões” que faltam. O que falta é resolver as cinco questões. Para ficar mais claro: “Faltam cinco questões” e “Falta resolver cinco questões”.

A dúvida é: A vitória significa ou significam três pontos decisivos para escapar do rebaixamento?
A resposta é: A vitória significa três pontos decisivos para escapar do rebaixamento.
Segundo a regra básica de concordância, o verbo deve concordar com o sujeito. No caso acima, o sujeito está no singular (=a vitória). Por causa disso, o verbo deve concordar no singular: “A vitória significa…”
Com o verbo ser, a história seria outra. O verbo ser é especial. Se o sujeito estiver no singular e predicativo do sujeito no plural, o verbo ser concordará no plural: “A vitória são as últimas esperanças do Botafogo”; “A maior revolta dos motoristas são as multas”; “A nossa maior alegria são as crianças”.

A dúvida é: A família só foi comunicada ou informada do sequestro uma semana depois?
A resposta é: A família só foi informada do sequestro uma semana depois.
O verbo comunicar é transitivo direto e indireto. Se alguém comunica, comunica alguma coisa a alguém. A coisa que se comunica é o objeto direto, e a pessoa a quem se comunica alguma coisa é o objeto indireto.
É importante lembrar que, de acordo com a gramática tradicional, só o objeto direto pode transformar-se em sujeito de voz passiva. Isso significa que somente a coisa (=objeto direto) pode ser comunicada, isto é, exercer a função do sujeito passivo. Assim sendo, é recomendável evitar o uso do verbo comunicar na voz passiva com sujeito “pessoa”. Estaria correto, portanto, dizer: “O sequestro só foi comunicado à família uma semana depois.” Vamos observar outro exemplo: “O empregado (pessoa) já foi comunicado (voz passiva) da sua demissão.” Melhor: “A demissão (coisa) já foi comunicada ao empregado.”
Não devemos confundir o verbo comunicar com o verbo informar. Embora sejam palavras sinônimas, o verbo informar apresenta duas regências possíveis: se alguém informa, informa alguma coisa a alguém ou informa alguém de alguma coisa. Quando informamos alguém de alguma coisa, a pessoa é o objeto direto. Pode, por isso, tornar-se sujeito passivo. Assim sendo, temos duas possibilidades: “A família (pessoa) só foi informada (voz passiva) do sequestro uma semana depois” e “O sequestro (coisa) só foi informado à família uma semana depois.”

A dúvida é: Ele teve participação sobre o ou no valor da venda do jogador?
A resposta é: Ele teve participação no valor da venda do jogador.
Ele não teve participação “sobre”, ou seja, “em cima do valor da venda”. Quem tem participação tem participação “em” alguma coisa, por isso é que “ele teve participação no valor da venda”.
Na frase “Entrou com um pedido junto à Vara de Execução Criminal”, encontramos o uso polêmico da locução “junto a”. Rigorosamente, “junto a” significa “ao lado de”. Assim sendo, o pedido teria entrado na Vara vizinha, e não na Vara de Execução Criminal. Para evitar confusões, é mais simples e claro dizer que “entrou com um pedido na Vara de Execução Criminal”. Devemos evitar construções pedantes do tipo: “O problema só será resolvido junto à direção da empresa” e “Contraiu um empréstimo junto ao Bando Mundial”. Muito melhor é “O problema só será resolvido com a direção da empresa” e “Contraiu um empréstimo no Banco Mundial”.




A dúvida é: Queremos agradecer-lhes pela ou a audiência?
A resposta é: Queremos agradecer-lhes a audiência.
O verbo agradecer é transitivo direto e indireto: agradecer alguma coisa (=objeto direto) a alguém (objeto indireto). Não agradecemos a alguém (objeto indireto) “por” alguma coisa (outro objeto indireto). Em “agradecer-lhes a audiência”, o pronome “lhes” exerce a função do objeto indireto e “a audiência” é o objeto direto.

Usar a expressão com a gente num texto formal é tão inadequado quanto usar conosco no “chopinho” da sexta-feira. Se alguém disser no barzinho que “ontem ela esteve aqui conosco”, vão pensar que ele está de porre. Se falar conosco na beira da praia, vão pensar que é biscoito: “dá um conosquinho aí”. Então, que fique bem claro: em textos formais, “Ele está aqui conosco”; na linguagem coloquial, “Ele está aqui com a gente”.

A dúvida é: Vamos analisar os casos que estão por ora ou por hora pendentes?
A resposta é: Vamos analisar os casos que estão por ora pendentes.
No sentido de “por enquanto, no momento”, devemos usar a forma “por ora”, sem “h”. Ora é um advérbio de tempo que significa “agora, no presente momento”. Hora com “h” é a unidade de medida de tempo que equivale a 60 minutos: “Nesta avenida, a velocidade máxima permitida é 80 quilômetros por hora”.
Também devemos usar ora sem “h” se for interjeição que exprime impaciência, surpresa, dúvida ou ironia. É o famoso “ora bolas!”. Também usamos ora sem “h” quando se trata de conjunção alternativa: “Ora trabalha ora estuda”. Isso não significa que se trabalha durante uma hora e em outra hora se estuda. “Ora…ora” significa que se trabalha e se estuda em momentos alternados.

A dúvida é: É bom você se previnir ou prevenir?
A resposta é: É bom você se prevenir.
Mesmo os mais prevenidos correm o risco de escrever previnir. Com muita frequência confundimos a vogais “e” e “i”. Em algumas regiões, é comum pronunciarmos a vogal “e” como se fosse “i”: “denti” por dente, “quasi” por quase, “venho di São Paulo” por venho de São Paulo… Quando são palavras conhecidas, dificilmente há dúvidas na hora de escrever.
O problema são aquelas palavras que são menos usadas, que são pouco vistas, que quase não escrevemos. Ortografia é uma questão de “memória visual”, por isso a leitura é fundamental. Observe alguns exemplos perigosos: aéreo, anteontem, cadeado, campeão, carestia, desenfreado, despender, empecilho, enteado, irrequieto, paletó, penico, periquito, quepe…
Anote aí algumas palavras que se escrevem com “i”: artifício, crânio, dentifrício, digladiar, dilapidar, dispêndio, intitular, meritíssimo, privilégio…

Na frase, “por causa da pista molhada, os pneus deslisaram”, quem deslizou foi o autor da frase. Se você escrever o verbo deslizar com “z”, nunca mais cometerá deslizes. O verbo deslisar com “s” existe, mas significa “tornar liso”. É o mesmo que alisar. Os verbos “deslisar” e “alisar” se escrevem com “s” porque são derivados de “liso”, que se escreve com “s”.
A frase “Vivia em condições subumanas” está correta. Com o prefixo “sub-”, só usamos o hífen se a palavra seguinte começar por “b” ou “r”: sub-base, sub-bibliotecária, sub-raça, sub-reino, sub-reitor. Assim sendo, quando a palavra seguinte começar por qualquer letra diferente de “b” ou “r”, devemos escrever “tudo junto”, como se diz popularmente: subchefe, submarino, subterrâneo, subsecretário, subsolo, suburbano, subemprego, subitem…
Segundo o novo acordo ortográfico, porém, com o prefixo “sub-“, se a palavra seguinte começar por “h”, podemos usar hífen ou não. Assim sendo, há duas grafias corretas: sub-humano e subumano.
Quando a palavra seguinte começa por “h”, se não houver hífen, a letra “h” some, pois só usamos a letra “h” isolada no início de palavra. Assim sendo, sub+humano fica subumano. O mesmo ocorre em desumano (des+humano), desarmonia (des+harmonia), reaver (re+haver)…

A dúvida é: Precisamos chamar um eletricista ou eletrecista?
A resposta é: Precisamos chamar um eletricista.
Eletricista é derivado de elétrico, por isso devemos escrever com “i”, assim como: eletricidade, eletrificar, eletrificação, eletricismo…
Com muita frequência confundimos as vogais “e” e “i”. Um caso que merece muita atenção é cardeal e cardial. Cardeal pode ser o religioso ou o pássaro. Também escrevemos com “e” o termo que designa as direções da rosa dos ventos que apontam para o Norte, o Sul, o Leste e o Oeste: são os pontos cardeais. Só escrevemos cardial, com “i”, quando nos referimos ao “cárdio” (coração em grego). Daí a cardiologia, que é o estudo do coração. A válvula cardial é a válvula do coração.

A dúvida é: Não foi possível ver a calda ou cauda do cometa?
A resposta é: Não foi possível ver a cauda do cometa.
Cometa só teria calda se tivesse “rabinho doce”. Calda é uma solução açucarada: calda de caramelo, pêssegos em calda… Cauda é rabo, apêndice: cauda do macaco, piano de cauda, cauda do cometa…
Você sabe qual é a diferença entre animais capturados e animais apreendidos? Se o leão fugir do circo, os bombeiros serão chamados para capturá-lo; se alguém estiver vendendo micos-leões ali na esquina (o que é ilegal), o Ibama deve apreender os animais e a polícia prender os traficantes.

A dúvida é: É proibida, qualquer que seja ou quaisquer que sejam os motivos, a entrada de estranhos?
A resposta é: É proibida, quaisquer que sejam os motivos, a entrada de estranhos.
Qualquer é um pronome que deve concordar com o substantivo a que se refere: “quaisquer motivos”, “quaisquer problemas”, “quaisquer pessoas”… Em geral, o singular já é suficiente: “qualquer motivo”, “qualquer problema”, “qualquer pessoa”. Isso significa que também estaria correto: “É proibida, qualquer que seja o motivo, a entrada de estranhos”.
Na frase “Estou aqui para resolver todo e qualquer problema”, a expressão “todo e qualquer” é redundante. “Todo problema” significa “qualquer problema”. Bastaria dizer: “Estou aqui para resolver todo problema” ou “Estou aqui para resolver qualquer problema”. Como toda redundância, somente a ênfase justifica o seu uso.

Falando “certo” - Metamorfose e a metafonia - Concordância e Ortografia - Dúvidas e Dicas de Português - Língua Portuguesa - Matéria Português



1. Falando “certo”

Por que na Rede Globo só se fala “récorde” quando o “certo” é recorde.
Meus leitores têm alguma dose de razão. Digamos que, oficialmente, pelo menos segundo nossos principais dicionários e o Vocabulário Ortográfico publicado pela Academia Brasileira de Letras, o “certo” é dizer recorde (=”recórde”). Oficialmente, portanto, recorde é um vocábulo paroxítono (sem acento gráfico).
Eu gostaria de saber por que o “certo” é recorde se existe uma clara oscilação entre as duas pronúncias: recorde e récorde. Não é só na Rede Globo que ouvimos “récorde”. Uma boa parcela dos falantes da língua portuguesa, principalmente no Brasil, fala “récorde”. Pode até ser influência da Globo.
Outra verdade é que existem outras palavras que os nossos dicionários já registram com dupla pronúncia: xérox e xerox, dúplex e duplex, biótipo e biotipo…
Então, por que não aceitar récorde como variante legítima de recorde?
O caso de biótipo é um belo exemplo. Os vocábulos terminados em “tipo”, normalmente, são proparoxítonos: protótipo, arquétipo, genótipo, estereótipo. Por isso, oficialmente era biótipo. No Brasil, porém, a pronúncia biotipo (paroxítona) está consagrada, e os nossos dicionários já registram as duas pronúncias: biótipo e biotipo. É importante lembrar que isso não é uma exceção nem anomalia gramatical, pois existem outras palavras paroxítonas terminadas em “tipo”: linotipo, logotipo…
Outro caso que me intriga é o da palavra necropsia. Se falamos autópsia e biópsia, por que não podemos falar “necrópsia”? Parece incoerência, principalmente quando os nossos principais dicionários e o Vocabulário Orográfico da ABL registram biopsia e biópsia, autopsia e autópsia, mas só registravam necropsia.
Por que não “necrópsia”, se é assim que muitos brasileiros, talvez a maioria, falam. A boa notícia é que a última edição do Vocabulário Ortográfico, publicada em 2009 pela Academia Brasileira de Letras, registra as duas formas: necrópsia e necropsia.
Em razão disso tudo, não entendo por que impor uma pronúncia como “certa” (recorde) e a outra como “errada” (“récorde”).
Em qualquer concurso, devemos respeitar a grafia oficial. Entenda-se como oficial a forma registrada no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa publicado pela Academia Brasileira de Letras.
Segundo o acadêmico Evanildo Bechara:
São palavras oxítonas: cateter, Nobel, recém, refém, ruim, ureter…
São paroxítonas: avaro, caracteres, erudito, filantropo, ibero, látex, maquinaria, pudico, recorde…
São proparoxítonas: epíteto, ínterim, lêvedo, monólito, ômega…
Palavras que admitem dupla pronúncia: acróbata ou acrobata, crisântemo ou crisantemo, hieróglifo ou hieroglifo, Oceânia ou Oceania, ortoépia ou ortoepia, projétil ou projetil, autópsia ou autopsia, biópsia ou biopsia, necrópsia ou necropsia…



2. A metamorfose e a metafonia

Metamorfose é uma palavra formada por elementos de origem grega: META, que significa “mudança”, e MORFO, que significa “forma”. Metamorfose, portanto, é a “mudança da forma”. Corresponde à palavra transformação, de origem latina: TRANS (=META) + FORMA (=MORFO). Os sufixos “-ose”, do grego, e “-ção”, do latim, significam “ato ou efeito da ação, processo”.
Morfologia é a parte da gramática que estuda o aspecto formal das palavras: gênero (masculino/feminino), número (singular/plural), grau (aumentativo/diminutivo, comparativo/superlativo), elementos formadores das palavras (raízes, prefixos, sufixos, radicais, desinências…).
Metáfora é aquela figura de estilo que se caracteriza por uma “mudança”: as palavras são usadas num sentido figurado devido a uma comparação subjetiva por semelhança. Quando afirmamos que “a menina é uma flor”, o substantivo FLOR está usado fora do seu sentido real (a flor propriamente dita). Queremos dizer que a menina é tão linda ou delicada quanto uma flor. Comparamos subjetivamente a beleza da menina com a beleza de uma flor. Isso é metáfora.
E a metafonia?
O elemento grego FONIA – que conhecemos em sinfonia, telefone, microfone, fonética etc. – significa “som”. Metafonia, portanto, é a “mudança do som”. É o nome que se dá para um fenômeno curioso: são aqueles vocábulos em que a vogal tônica de timbre fechado /ô/ muda para timbre aberto /ó/, quando vão para o feminino ou para o plural: porco (/ô/) – porca e porcos (/ó/).
O problema é que existem palavras em que não ocorre metafonia: cachorro – cachorra e cachorros (/ô/). Existem aquelas que apresentam diferentes pronúncias: sogro (/ô/) – sogra (/ó/) e sogros (/ô/, no Brasil; /ó/, em Portugal).
Há palavras em que a metafonia acontece somente no plural: caroço – caroços; tijolo – tijolos; posto – postos; jogo – jogos…
Há palavras que não sofrem metafonia: bolso – bolsos; acordo – acordos; bolo – bolos; coco – cocos…
E há aquelas que nos deixam em dúvida: o plural de forno é “fôrnos” ou “fórnos”? Embora muitos pronunciem com timbre fechado, oficialmente devemos falar fornos com timbre aberto (/ó/).
Segundo o mestre Evanildo Bechara, sofrem metafonia (mudança de timbre na vogal tônica = /ô/ para /ó/): coro – coros; corpo – corpos; corvo – corvos; destroço – destroços; forno – fornos; foro – foros; fosso – fossos; miolo – miolos; poço – poços; socorro – socorros; torto – tortos; troco – trocos…
Não sofrem metafonia (=mantêm o timbre fechado /ô/): adornos, almoços, alvoroços, caolhos, contornos, esboços, esposos, globos, gozos, jorros, sogros, sopros, soros, transtornos…

Dúvidas Português Parte 5 - Ortografia - Língua Portuguesa




107. A dúvida é: A reunião só começará após às ou as 10h?
A resposta é: A reunião só começará após as 10h.
Já sabemos que a presença de uma preposição dispensa o uso de outra. Se temos a preposição após, não haverá crase porque não teremos a preposição a. O mesmo ocorre com outras preposições: “Ele está aqui desde as 10h”; “A reunião ficou para as 10h”; “A reunião será entre as 10h e o meio-dia”.

108. A dúvida é: O atacante ficou cara à cara ou cara a cara com o goleiro?
A resposta é: O atacante ficou cara a cara com o goleiro.
Não ocorre crase em expressões repetidas do tipo “cara a cara, frente a frente, gota a gota, face a face”. A explicação é simples: o substantivo repetido está usado no seu sentido genérico, ou seja, sem artigo definido. Temos apenas a presença da preposição “a”. A prova disso é que o mesmo ocorre com os substantivos masculinos: “corpo a corpo, lado a lado”.

109. A dúvida é: Espere um instante que o diretor já vai falar consigo ou com você?
A resposta é: Espere um instante que o diretor já vai falar com você.
“Falar consigo”, rigorosamente, no Brasil, é “falar com si mesmo”. CONSIGO é um pronome reflexivo e devemos evitar usá-lo com o sentido de “com ele”, “com você” ou “contigo”. Isso significa que a expressão CONSIGO MESMO seria redundante. Não é necessário dizer: “Ele levou os dólares consigo mesmo.” Basta: “Ele levou os dólares consigo.”

110. A dúvida é: Eu vi ela ou a vi?
A resposta é: Eu a vi.
No caso específico da frase “Eu vi ela”, o problema é que, além do cacófato (=vi ela), temos um pronome mal empregado: ELE(S) e ELA(S) são pronomes pessoais do caso reto e só podem ser usados na função de sujeito. Para complementos verbais, devemos usar os pronomes oblíquos (o, a, os, as, lhe, lhes …).
Frequentemente, pessoas que desejam falar bem cometem alguns errinhos, pois querem corrigir o que está errado e não sabem como. Ouço muito: “Há quanto tempo que não LHE vejo!”. Costumo dizer: “É porque você está vendo muito mal”. Quer saber por quê. Ora, o pronome LHE substitui “objetos indiretos”. Para os “objetos diretos”, devemos usar os pronomes O(S) e A(S). O verbo VER é transitivo direto; o correto, portanto, é “Há muito tempo que não o vejo.”
Resumindo: ELE(S) e ELA(S) = pronomes pessoais retos = sujeito; LHE(S) = pronomes pessoais oblíquos = objetos indiretos; O(S) e A(S) = pronomes pessoais oblíquos = objetos diretos.

111. A dúvida é: Ela trouxe o livro para mim ler ou para eu ler?
A resposta é: Ela trouxe o livro para eu ler.
É outro vício de nossa linguagem cotidiana. MIM é um pronome pessoal oblíquo, por isso não pode exercer a função de sujeito. Observe que são duas orações: “Ela trouxe o livro / para eu ler”. A segunda oração é reduzida de infinitivo (= para que eu lesse). Isso significa que o pronome pessoal reto EU é o sujeito do verbo LER.
Se não houvesse o verbo LER, teríamos apenas uma oração cujo sujeito é o pronome ELA. Nesse caso, devemos usar o pronome pessoal oblíquo: “Ela trouxe o livro para MIM.”
Essa regra se aplica a qualquer preposição. Observe os exemplos: “Ela chegou antes DE MIM”, porém “antes DE EU sair”; “Ela fez isso POR MIM”, porém “POR EU estar cansado”.
Assim sendo, responda: o certo é “Não há nada entre EU e você” ou “entre MIM e você”? Quem disse “entre EU e você” respondeu “de ouvido” e “se deu mal”. O correto é “entre MIM e você”. Observe que não há verbo após o pronome MIM. Isso significa que ele não é sujeito, por isso devemos usar o pronome pessoal oblíquo.
Se a resposta não lhe agradou, em vez de usar “entre eu e você” (que está errado) ou “entre mim e você” (que está certo, mas você achou esquisito), diga que “não haverá mais nada entre NÓS”. Resumindo: Preposição (de, entre, para, por…) + EU + verbo infinitivo; Preposição (de, entre, para, por…) + MIM (sem verbo).

112. A dúvida é: Os nossos fornecedores querem fazer uma reunião com nós ou conosco?
A resposta é: Os nossos fornecedores querem fazer uma reunião conosco.
Na 1a pessoa do plural, o pronome pessoal oblíquo tônico é conosco: “Ele quer falar conosco”. Entretanto, devemos usar a forma “com nós” antes de algumas palavras: “Ele quer falar com nós todos”; “Ele deixou a decisão com nós mesmos (=com nós próprios)”; “Ele quer fazer uma reunião com nós dois” (=numerais); “Ele deixou a decisão com nós, que reclamamos da sua proposta”.
No Português falado no Brasil, em vez de conosco, ouvimos muito mais o “famoso” com a gente: “Ele falou com a gente”, “Ele saiu com a gente”. Entretanto, em textos formais que exijam uma linguagem mais cuidada, devemos usar conosco. É só imaginar a ata de reunião de uma grande empresa: “Os nossos fornecedores querem fazer uma reunião com a gente”. Fica muito estranho. Não é uma questão de certo ou errado. É um problema de inadequação.





113. A dúvida é: Eu fiquei fora de si ou de mim?
A resposta é: Eu fiquei fora de mim.
O pronome reflexivo “si” (quando sujeito pratica e sofre a ação verbal = ideia de “a si mesmo”) é de 3ª pessoa: “Ele ficou fora de si”; “Ela feriu a si mesma”; “Você iludiu a si mesmo”; “Eles ficaram fora de si”; “Elas feriram a si próprias”. Na 1ª pessoa do singular, devemos usar o pronome “mim”: “Eu fiquei fora de mim”; “Eu feri a mim mesmo”.
Pior ainda é “Nós se ferimos”. O sujeito (=nós) está na 1ª pessoa do plural e o pronome “se” é de 3ª pessoa. O certo é: “Nós nos ferimos” e “Ele se feriu”.
Muita gente quer saber quando devemos usar “entre si” ou “entre eles”. A diferença é a seguinte: a) devemos usar “entre si” somente quando o sujeito pratica e recebe a ação verbal: “Os lutadores brigavam entre si” (= os lutadores, termo que exerce a função de sujeito da oração, pratica e recebe a ação de brigar); b) usamos “entre eles” quando o sujeito é um e o complemento é outro: “Nada existe entre eles” (= o sujeito é “nada” e o complemento é “entre eles”). Vejamos mais exemplos: “Os políticos discutiam entre si”; “Eles repartiram o prêmio entre si mesmos”; “O prêmio foi repartido entre eles”; “O segredo ficou entre eles mesmos”.

114. A dúvida é: Isto ocorreu no verão, onde ou quando o calor é bem mais intenso?
A resposta é: Isto ocorreu no verão, quando o calor é bem mais intenso.
Só devemos usar o pronome ONDE quando houver a ideia de “lugar”: “Isto ocorreu na cidade onde ele nasceu”; “Esta é a sala onde eles trabalham”.
O verão é uma das estações do ano; refere-se, portanto, a tempo, e não a lugar. Quando nos referimos a tempo, devemos usar o pronome “quando”: “Isto ocorreu em janeiro, quando o ministro alterou as regras do jogo”; “Viajou na primavera, quando tudo fica mais florido”.
É interessante notar que tanto o pronome “onde” quanto o pronome “quando” podem ser substituídos por “em que”: “Isto correu na cidade onde (ou em que ou na qual) ele nasceu”; “Isto ocorreu no dia quando (ou em que ou no qual) eles viajaram.”

115. A dúvida é: Mandei eles entrar ou Mandei-os entrar?
A resposta é: Mandei-os entrar.
Após verbos causativos ou sensitivos (=mandar, deixar, fazer, ver, ouvir…), devemos usar pronomes oblíquos (=o, a, os, as) como sujeito do infinitivo.
A tradição gramatical condena o uso dos pronomes retos (ele, ela, eles, elas). Assim sendo: “Deixei-o falar bastante” (em vez de “deixei ele falar”); “O novo diretor ainda não a ouviu cantar” (em vez de “ouviu ela cantar”).
Se o sujeito do infinitivo for um substantivo plural, a concordância é facultativa: “Mandei os alunos entrar ou entrarem”. Segundo a tradição, o infinitivo após verbos causativos deveria ficar não flexionado: “Mandei os alunos entrar”; “Deixai vir a mim as criancinhas”.
Hoje em dia, entretanto, é fato e a maioria dos estudiosos da nossa língua já aceita a concordância do infinitivo no plural quando antecedido de um sujeito plural: “Mandei os alunos entrarem”; “O jogo fez os torcedores vibrarem muito”.

116. A dúvida é: Neste ou nesse inverno fez mais frio que no do ano passado?
A resposta é: Neste inverno fez mais frio que no do ano passado.
Sempre que nos referimos ao “tempo presente”, devemos usar os pronomes este, esta, neste, nesta, destes… Se estamos falando do atual inverno, do inverno deste ano, o correto é dizer “neste inverno”. Os pronomes esse, essa, nesse, nessa, desses… devem ser usados em referência a alguma coisa citada anteriormente: “Até a vigésima volta, Rubinho liderava a corrida. Nesse momento (=vigésima volta), começou um enorme temporal. Isso (=temporal) provocou a interrupção do grande prêmio”.
Qual é a forma correta: “As provas do vestibular serão em dezembro. As inscrições deverão ser feitas neste ou nesse mês”? A melhor resposta seria “depende”, pois “neste mês” seria agora, no mês em que estamos; e “nesse mês” seria o mês citado, ou seja, em dezembro. O melhor mesmo é evitar frases em que os pronomes este ou esse possam causar dúvidas ou mal-entendidos.

117. A dúvida é: É esta a teoria onde ou em que o técnico se baseou?
A resposta é: É esta a teoria em que o técnico se baseou.
A palavra onde, como advérbio ou pronome relativo, sempre se refere a “lugar”. Significa “em algum lugar”: “Esta é casa onde ele viveu seus últimos dias”. Casa é lugar, mas teoria não. Não havendo a ideia de “lugar”, devemos usar “em que” ou “no qual/na qual”: “É esta a teoria em que ou na qual o técnico se baseou”.
Só podemos usar onde se houver a ideia de lugar, mas não somos obrigados. É perfeitamente aceitável usar “em que” ou “no/na qual”: “Esta é a casa onde ou em que ou na qual ele viveu seus últimos dias”.

118. A dúvida é: Realizar-se-ia ou realizaria-se a cerimônia na Catedral?
A resposta é: Realizar-se-ia a cerimônia na Catedral.
Quando o verbo está no futuro do presente ou no futuro do pretérito do modo indicativo, devemos fazer a mesóclise: usar o pronome átono no meio do verbo: tornar-me-ei, realizar-se-á, manter-se-ia…
Quando o verbo está no futuro do indicativo, a ênclise (pronome átono após o verbo) está sempre errada: “tornarei-me”, “realizará-se”, “manteria-se”…
Para quem não gosta da mesóclise, a solução é a próclise (pronome átono antes do verbo), desde que o sujeito anteceda o verbo: “Eu me tornarei o líder do grupo”; “A reunião se realizará amanhã”; “A cerimônia se realizaria na Catedral”.

Dúvidas Português Parte 5 - Ortografia - Língua Portuguesa



107. A dúvida é: A reunião só começará após às ou as 10h?
A resposta é: A reunião só começará após as 10h.
Já sabemos que a presença de uma preposição dispensa o uso de outra. Se temos a preposição após, não haverá crase porque não teremos a preposição a. O mesmo ocorre com outras preposições: “Ele está aqui desde as 10h”; “A reunião ficou para as 10h”; “A reunião será entre as 10h e o meio-dia”.

108. A dúvida é: O atacante ficou cara à cara ou cara a cara com o goleiro?
A resposta é: O atacante ficou cara a cara com o goleiro.
Não ocorre crase em expressões repetidas do tipo “cara a cara, frente a frente, gota a gota, face a face”. A explicação é simples: o substantivo repetido está usado no seu sentido genérico, ou seja, sem artigo definido. Temos apenas a presença da preposição “a”. A prova disso é que o mesmo ocorre com os substantivos masculinos: “corpo a corpo, lado a lado”.

109. A dúvida é: Espere um instante que o diretor já vai falar consigo ou com você?
A resposta é: Espere um instante que o diretor já vai falar com você.
“Falar consigo”, rigorosamente, no Brasil, é “falar com si mesmo”. CONSIGO é um pronome reflexivo e devemos evitar usá-lo com o sentido de “com ele”, “com você” ou “contigo”. Isso significa que a expressão CONSIGO MESMO seria redundante. Não é necessário dizer: “Ele levou os dólares consigo mesmo.” Basta: “Ele levou os dólares consigo.”

110. A dúvida é: Eu vi ela ou a vi?
A resposta é: Eu a vi.
No caso específico da frase “Eu vi ela”, o problema é que, além do cacófato (=vi ela), temos um pronome mal empregado: ELE(S) e ELA(S) são pronomes pessoais do caso reto e só podem ser usados na função de sujeito. Para complementos verbais, devemos usar os pronomes oblíquos (o, a, os, as, lhe, lhes …).
Frequentemente, pessoas que desejam falar bem cometem alguns errinhos, pois querem corrigir o que está errado e não sabem como. Ouço muito: “Há quanto tempo que não LHE vejo!”. Costumo dizer: “É porque você está vendo muito mal”. Quer saber por quê. Ora, o pronome LHE substitui “objetos indiretos”. Para os “objetos diretos”, devemos usar os pronomes O(S) e A(S). O verbo VER é transitivo direto; o correto, portanto, é “Há muito tempo que não o vejo.”
Resumindo: ELE(S) e ELA(S) = pronomes pessoais retos = sujeito; LHE(S) = pronomes pessoais oblíquos = objetos indiretos; O(S) e A(S) = pronomes pessoais oblíquos = objetos diretos.

111. A dúvida é: Ela trouxe o livro para mim ler ou para eu ler?
A resposta é: Ela trouxe o livro para eu ler.
É outro vício de nossa linguagem cotidiana. MIM é um pronome pessoal oblíquo, por isso não pode exercer a função de sujeito. Observe que são duas orações: “Ela trouxe o livro / para eu ler”. A segunda oração é reduzida de infinitivo (= para que eu lesse). Isso significa que o pronome pessoal reto EU é o sujeito do verbo LER.
Se não houvesse o verbo LER, teríamos apenas uma oração cujo sujeito é o pronome ELA. Nesse caso, devemos usar o pronome pessoal oblíquo: “Ela trouxe o livro para MIM.”
Essa regra se aplica a qualquer preposição. Observe os exemplos: “Ela chegou antes DE MIM”, porém “antes DE EU sair”; “Ela fez isso POR MIM”, porém “POR EU estar cansado”.
Assim sendo, responda: o certo é “Não há nada entre EU e você” ou “entre MIM e você”? Quem disse “entre EU e você” respondeu “de ouvido” e “se deu mal”. O correto é “entre MIM e você”. Observe que não há verbo após o pronome MIM. Isso significa que ele não é sujeito, por isso devemos usar o pronome pessoal oblíquo.
Se a resposta não lhe agradou, em vez de usar “entre eu e você” (que está errado) ou “entre mim e você” (que está certo, mas você achou esquisito), diga que “não haverá mais nada entre NÓS”. Resumindo: Preposição (de, entre, para, por…) + EU + verbo infinitivo; Preposição (de, entre, para, por…) + MIM (sem verbo).

112. A dúvida é: Os nossos fornecedores querem fazer uma reunião com nós ou conosco?
A resposta é: Os nossos fornecedores querem fazer uma reunião conosco.
Na 1a pessoa do plural, o pronome pessoal oblíquo tônico é conosco: “Ele quer falar conosco”. Entretanto, devemos usar a forma “com nós” antes de algumas palavras: “Ele quer falar com nós todos”; “Ele deixou a decisão com nós mesmos (=com nós próprios)”; “Ele quer fazer uma reunião com nós dois” (=numerais); “Ele deixou a decisão com nós, que reclamamos da sua proposta”.
No Português falado no Brasil, em vez de conosco, ouvimos muito mais o “famoso” com a gente: “Ele falou com a gente”, “Ele saiu com a gente”. Entretanto, em textos formais que exijam uma linguagem mais cuidada, devemos usar conosco. É só imaginar a ata de reunião de uma grande empresa: “Os nossos fornecedores querem fazer uma reunião com a gente”. Fica muito estranho. Não é uma questão de certo ou errado. É um problema de inadequação.





113. A dúvida é: Eu fiquei fora de si ou de mim?
A resposta é: Eu fiquei fora de mim.
O pronome reflexivo “si” (quando sujeito pratica e sofre a ação verbal = ideia de “a si mesmo”) é de 3ª pessoa: “Ele ficou fora de si”; “Ela feriu a si mesma”; “Você iludiu a si mesmo”; “Eles ficaram fora de si”; “Elas feriram a si próprias”. Na 1ª pessoa do singular, devemos usar o pronome “mim”: “Eu fiquei fora de mim”; “Eu feri a mim mesmo”.
Pior ainda é “Nós se ferimos”. O sujeito (=nós) está na 1ª pessoa do plural e o pronome “se” é de 3ª pessoa. O certo é: “Nós nos ferimos” e “Ele se feriu”.
Muita gente quer saber quando devemos usar “entre si” ou “entre eles”. A diferença é a seguinte: a) devemos usar “entre si” somente quando o sujeito pratica e recebe a ação verbal: “Os lutadores brigavam entre si” (= os lutadores, termo que exerce a função de sujeito da oração, pratica e recebe a ação de brigar); b) usamos “entre eles” quando o sujeito é um e o complemento é outro: “Nada existe entre eles” (= o sujeito é “nada” e o complemento é “entre eles”). Vejamos mais exemplos: “Os políticos discutiam entre si”; “Eles repartiram o prêmio entre si mesmos”; “O prêmio foi repartido entre eles”; “O segredo ficou entre eles mesmos”.

114. A dúvida é: Isto ocorreu no verão, onde ou quando o calor é bem mais intenso?
A resposta é: Isto ocorreu no verão, quando o calor é bem mais intenso.
Só devemos usar o pronome ONDE quando houver a ideia de “lugar”: “Isto ocorreu na cidade onde ele nasceu”; “Esta é a sala onde eles trabalham”.
O verão é uma das estações do ano; refere-se, portanto, a tempo, e não a lugar. Quando nos referimos a tempo, devemos usar o pronome “quando”: “Isto ocorreu em janeiro, quando o ministro alterou as regras do jogo”; “Viajou na primavera, quando tudo fica mais florido”.
É interessante notar que tanto o pronome “onde” quanto o pronome “quando” podem ser substituídos por “em que”: “Isto correu na cidade onde (ou em que ou na qual) ele nasceu”; “Isto ocorreu no dia quando (ou em que ou no qual) eles viajaram.”

115. A dúvida é: Mandei eles entrar ou Mandei-os entrar?
A resposta é: Mandei-os entrar.
Após verbos causativos ou sensitivos (=mandar, deixar, fazer, ver, ouvir…), devemos usar pronomes oblíquos (=o, a, os, as) como sujeito do infinitivo.
A tradição gramatical condena o uso dos pronomes retos (ele, ela, eles, elas). Assim sendo: “Deixei-o falar bastante” (em vez de “deixei ele falar”); “O novo diretor ainda não a ouviu cantar” (em vez de “ouviu ela cantar”).
Se o sujeito do infinitivo for um substantivo plural, a concordância é facultativa: “Mandei os alunos entrar ou entrarem”. Segundo a tradição, o infinitivo após verbos causativos deveria ficar não flexionado: “Mandei os alunos entrar”; “Deixai vir a mim as criancinhas”.
Hoje em dia, entretanto, é fato e a maioria dos estudiosos da nossa língua já aceita a concordância do infinitivo no plural quando antecedido de um sujeito plural: “Mandei os alunos entrarem”; “O jogo fez os torcedores vibrarem muito”.

116. A dúvida é: Neste ou nesse inverno fez mais frio que no do ano passado?
A resposta é: Neste inverno fez mais frio que no do ano passado.
Sempre que nos referimos ao “tempo presente”, devemos usar os pronomes este, esta, neste, nesta, destes… Se estamos falando do atual inverno, do inverno deste ano, o correto é dizer “neste inverno”. Os pronomes esse, essa, nesse, nessa, desses… devem ser usados em referência a alguma coisa citada anteriormente: “Até a vigésima volta, Rubinho liderava a corrida. Nesse momento (=vigésima volta), começou um enorme temporal. Isso (=temporal) provocou a interrupção do grande prêmio”.
Qual é a forma correta: “As provas do vestibular serão em dezembro. As inscrições deverão ser feitas neste ou nesse mês”? A melhor resposta seria “depende”, pois “neste mês” seria agora, no mês em que estamos; e “nesse mês” seria o mês citado, ou seja, em dezembro. O melhor mesmo é evitar frases em que os pronomes este ou esse possam causar dúvidas ou mal-entendidos.

117. A dúvida é: É esta a teoria onde ou em que o técnico se baseou?
A resposta é: É esta a teoria em que o técnico se baseou.
A palavra onde, como advérbio ou pronome relativo, sempre se refere a “lugar”. Significa “em algum lugar”: “Esta é casa onde ele viveu seus últimos dias”. Casa é lugar, mas teoria não. Não havendo a ideia de “lugar”, devemos usar “em que” ou “no qual/na qual”: “É esta a teoria em que ou na qual o técnico se baseou”.
Só podemos usar onde se houver a ideia de lugar, mas não somos obrigados. É perfeitamente aceitável usar “em que” ou “no/na qual”: “Esta é a casa onde ou em que ou na qual ele viveu seus últimos dias”.

118. A dúvida é: Realizar-se-ia ou realizaria-se a cerimônia na Catedral?
A resposta é: Realizar-se-ia a cerimônia na Catedral.
Quando o verbo está no futuro do presente ou no futuro do pretérito do modo indicativo, devemos fazer a mesóclise: usar o pronome átono no meio do verbo: tornar-me-ei, realizar-se-á, manter-se-ia…
Quando o verbo está no futuro do indicativo, a ênclise (pronome átono após o verbo) está sempre errada: “tornarei-me”, “realizará-se”, “manteria-se”…
Para quem não gosta da mesóclise, a solução é a próclise (pronome átono antes do verbo), desde que o sujeito anteceda o verbo: “Eu me tornarei o líder do grupo”; “A reunião se realizará amanhã”; “A cerimônia se realizaria na Catedral”.