FUTEBOL E CIVISMO


FUTEBOL E CIVISMO

Na Atualidade



     Não é novidade para ninguém que o Brasil está apresentando um futebol medíocre nos últimos anos e tendo sérias dificuldades na classificação para a copa do mundo de 2002. Por outro lado, ninguém desconhece a tradição e o potencial deste esporte. Não é por acaso que o país detém os maiores títulos e escores, sendo ainda considerado a grande paixão nacional. Temos intelectuais ilustres, homens famosos nos negócios, heróis da guerra e da paz; temos como patrícios o pai da aviação e a águia de Haia; de vez em quando surgem atletas geniais no automobilismo e no tênis e até mesmo nos damos ao luxo de doar ao mundo santos eclesiásticos, mas o ponto forte da alma brasileira está mesmo na bola.
     Sei que um preâmbulo dessa natureza pode induzir o leitor a imaginar que esta crônica se desenvolva unicamente sobre futebol, mas esse não é seu escopo principal. Quero abordar a relação desse esporte com o hino e outros símbolos nacionais. Não trato de aspectos históricos, mas tão somente o senso de nacionalidade, a sensação patriótica e a emoção forte e autêntica pelas bandeiras trepidantes e pela música e letra do hino brasileiro ostentados num estádio de futebol. Refiro, especificamente, à abertura da partida realizada anteontem no estádio olímpico de Porto Alegre, quando uma multidão de aproximadamente cinqüenta mil pessoas torcia pelo Brasil, no jogo contra o      Paraguai, numa demonstração eloqüente de altivez, cidadania e civilidade.
     Todos são testemunhas de que, nas últimas décadas, o pavilhão verde-amarelo anda recluso, ausente das praças, escolas e repartições públicas. Quando içado, o tecido é velho, sem brilho, desbotado ou sujo. Tão augusta, tão linda, mas pobre bandeira! É comum assistir entre nossos atletas e concidadãos um hino nacional mal cantado, espremido pelos cantos da boca ou trapaceado em arremedos. O espetáculo vivido em Porto Alegre difere totalmente desse quadro e constitui-se, portanto, numa bela lição, exemplo e modelo.
     Não se pode atribuir a degenerescência do senso de nacionalidade ao processo globalizante que persuade, alicia e quebra todo tipo de fronteiras. A negligência e desprezo aos nossos símbolos nacionais não podem ser atribuídos a esse destempero. Suas causas são outras, talvez culturais, fruto de colonização mais antiga e grosseira, onde imperavam a chibata, o flagelo e o degredo. Os países ricos e desenvolvidos dão uma demonstração eloqüente de zelo, apreço e respeito aos seus símbolos, apesar de seus negócios e interesses rondarem o mundo inteiro. Se países pobres, como o Brasil, são vítimas de tantas mazelas e parece haver uma tendência mórbida de se aprender tantas coisas imprestáveis com os donos mundiais da riqueza, por que não aprender com eles essa lição de civismo e nobreza?
     Foi realmente majestosa e edificante a imagem daquele estádio repleto de gente bonita, com bandeiras tremulando e um hino nacional cantado com sentimento estampado no rosto e no peito. Que essa lição gaúcha sirva de exemplo eficaz e duradouro. Um país para ser grande, no sentido verdadeiro da palavra, tem que cultivar seus símbolos, pois eles são testemunhas dos seus feitos, da sua história e do seu destino. O futebol, a bandeira, o hino e tantos outros elementos representativos da pátria devem ser cultivados não somente porque se constituem símbolos, mas sobretudo porque são marcas de afirmação coletiva, signos de orgulho de uma nação e retratos da alma de um povo.


FONTE: EDMS – Trabalhos Escolares, Educação & Diversão