Uso da vírgula - Matéria Português - Dicas de Português - Língua Portuguesa



Uso da vírgula

“Meu filho vem jantar em casa.” (= É uma afirmação. Meu filho é o sujeito. O verbo está no presente do indicativo);
“Meu filho, vem jantar em casa.” (= É um chamamento. Meu filho é o vocativo. O verbo está no imperativo).
Essas lembranças têm um motivo especial. São as dezenas de cartas que recebi a respeito da vírgula usada em propagandas do tipo: “Quem lê, sabe” e “Quem sabe, lê”.

Prefiro sem vírgula. Quem lê é o sujeito do verbo saber e Quem sabe é o sujeito de verbo ler. Não vejo necessidade de se criar uma exceção. Se é sujeito, mesmo que oracional, não precisa ser separado do verbo por vírgula. Observe a diferença:

“Quem lê o Jornal X ouve a Rádio Y.” (= Estou afirmando que o leitor do Jornal X ouve a Rádio Y. A oração Quem lê o Jornal X é o sujeito do verbo ouvir, que está no presente do indicativo. É o mesmo que eu dissesse: “O leitor do Jornal X ouve a Rádio Y”.);
“Quem lê o Jornal X, ouve a Rádio Y.” (= Estou fazendo um apelo ou um convite ao leitor do Jornal X para que ele ouça a Rádio Y. O verbo ouvir está no imperativo. É como se eu dissesse: “Você que lê o Jornal X, ouça a Rádio Y” ou “Tu que lês o Jornal X, ouve a Rádio Y”.
Na minha opinião, não devemos pôr vírgula entre o sujeito e o verbo em hipótese alguma: “Quem lê sabe”; “Quem sabe lê”; “Quem avisa amigo é”; “Quem casa quer casa”; “Quem estuda passa”; “Quem bebe Grapete repete”…

Alguns autores defendem a vírgula. Afirmam que há uma pausa bem marcada entre as duas orações, principalmente quando os dois verbos ficam juntos. Não nego que seja possível fazermos uma pausa entre um verbo e outro. Isso não significa, porém, que devemos marcar essa pausa com uma vírgula.

Outros justificam o uso da vírgula com o seguinte argumento: em “quem lê” está subentendida uma oração adjetiva restritiva. Corresponderia a “aquele que lê”. Na minha opinião, temos aqui mais um motivo para não usarmos a vírgula, pois só devemos usar vírgula para separar as orações adjetivas explicativas. Portanto, também não devemos usar vírgula em construções do tipo: “Aquele que lê sabe”; “Aquele que sabe lê”; “Aquele que estuda passa”; “Aquele que bebe Grapete repete”…

É assim que eu penso. É óbvio que respeito as opiniões divergentes e gostaria muito de ouvir novos argumentos. Agradeço antecipadamente.

Também é bom lembrar que não usamos vírgula quando sujeito é muito longo. Vejamos um exemplo: “Todos os técnicos qualificados pelo Instituto Nacional de Metrologia do Rio de Janeiro, devem comparecer à reunião no próximo dia 5”. Não acredito que alguém concorde com essa vírgula, pois separa o sujeito do predicado. Não é o fato de o sujeito ser “imenso” (ou “a falta de ar”) que justificaria o uso da vírgula.



DESVIOS-PADRÕES ou DESVIOS-PADRÃO?

Pergunta do leitor: “Em meus estudos e pesquisas na área financeira, que incluem conceitos de estatística, tenho encontrado duas maneiras de escrita do plural da palavra desvio-padrão: desvios-padrões e desvios-padrão. Da mesma forma, na empresa em que trabalho como engenheiro, as pessoas frequentemente utilizam duas formas para expressar a palavra edital-padrão: editais-padrões e editais-padrão. Pesquisei o assunto em livros de gramática e ainda não consegui chegar a uma conclusão. Entretanto, venho insistindo que o correto são as formas DESVIOS-PADRÃO e EDITAIS-PADRÃO. Estou cometendo alguma heresia, ou melhor, estou pagando um grande mico?”

Meu caro, você não está cometendo heresia alguma nem “pagando um grande mico”. Errado é pensar que esta é a única forma correta. Como você bem frisou, as nossas gramáticas não nos permitem tirar uma conclusão definitiva sobre o assunto.

Para a maioria dos estudiosos da Língua Portuguesa, a formação do plural é facultativa quando as palavras são compostas por dois substantivos e o segundo especifica o primeiro: ou vão os dois substantivos para o plural ou só o primeiro.

Eu prefiro a segunda opção. Quando juntamos dois substantivos e o segundo exerce o papel de adjetivo, somente o primeiro vai para o plural: desvios-padrão, editais-padrão, tatus-bola, elementos-chave, laranjas-lima, peixes-boi…

O problema é que esta regra não é rígida. Em geral, os nossos dicionários consideram as duas formas.