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Precisão e adequação vocabular - Parte 2 - Língua Portuguesa



Precisão e adequação vocabular - Parte 2 

21. COMPROMISSADO ou COMPROMETIDO?

A frase é: “O nosso prefeito sempre esteve compromissado com a verdade.”
O correto é: “O nosso prefeito sempre esteve comprometido com a verdade.”
Ultimamente, os nossos políticos só andam “compromissados” com a verdade, porque comprometidos, que é bom, nem pensar… E muito menos com a língua portuguesa. Ora, o particípio deriva do infinitivo. O particípio é comprometido porque deriva do verbo comprometer, e não do substantivo compromisso. É comprometido, da mesma forma que remeter é remetido, e não “remessido”; prometer é prometido, e não “promessido”; cometer é cometido, e não “comessido”.
Pior ainda foi aquele político que disse ter nascido na Bahia e ter sido concebido na Santa Casa. Nascer num hospital é fato normal, mas ser concebido?! É, no mínimo, um estranho lugar para alguém ser concebido. Em todo caso, hoje em dia tudo é possível. São tantas as fantasias…

22. CICLO ou CÍRCULO? e PORCAMENTE ou PARCAMENTE?

A frase é: “Estamos vivendo num ciclo vicioso.”
O certo seria: “Estamos vivendo num círculo vicioso.”
É muito frequente confundirmos ciclo com círculo. Isso se deve, provavelmente, à semelhança. O problema é que ciclo se refere a “período”: “ciclo do ouro”, “ciclo das grandes navegações”… No caso, estamos no referindo ao fato de os problemas não terem fim. É um círculo cheio de vício, porque se repete muitas vezes e não acaba nunca.
Confundir palavras parecidas é sempre perigoso. Isso me faz lembrar aquele sujeito que faz pose e afirma: “Ela fala mal e porcamente”. Pelo visto, estamos na lama… É muita sujeira! É bom saber que esse tal “porcamente” era para ser “parcamente”. Vem de parco, que significa “pouco, escasso, minguado”. “Falar mal e parcamente” significa “falar mal e pouco, poupar palavras, falar moderadamente”.

23. LARGO ou COMPRIDO?

A frase é: “Caminhava a passos largos para o título de bicampeão.”
O mais adequado seria: “Caminhava a passos compridos (ou longos) para o título de bicampeão.”
A expressão “a passos largos” já está irreversivelmente consagrada em português. É um caminho sem volta. Mas, vale a pena lembrar que “largo”, em português, significa “amplo”. Daí a largura. Os pés podem ser largos, mas não os passos, que podem ser “compridos ou longos”. A expressão “a passos largos” provavelmente é de origem espanhola, pois, no espanhol, largo significa “comprido” e ancho é “largo”.
Outro caso curioso é o chavão: “Brasil perdeu em pleno Maracanã”. “Pleno” significa “cheio, completo”. Em pleno Maracanã quer dizer que o Maracanã estava lotado. Hoje em dia, porém, é frequente ouvirmos nossos jornalistas esportivos usarem “pleno” com o sentido de “em seu próprio estádio”, “em sua própria cidade”. Não há, portanto, a intenção de se fazer referência à lotação do estádio. Às vezes, a expressão “em pleno Maracanã” é usada mesmo com o estádio vazio. Isso me faz lembrar o plenário da Câmara dos Deputados, que está sempre “cheio”…

24. UM FÍGADO ou O FÍGADO? UMA FRATURA ou FRATURA?

A frase é: “O paciente teve um fígado afetado.”
O correto é: “O paciente teve o fígado afetado.”
Pelo visto, o tal paciente tinha mais de um fígado. Ter dois ou três fígados, certamente é uma anomalia. O mau uso dos artigos é uma constante. Com alguma frequência podemos observar o uso desnecessário do artigo indefinido: “O Prefeito vai encaminhar um outro projeto de lei” e “Para ficar na empresa, o gerente havia exigido um aumento salarial”. Bastaria dizer que “o Prefeito vai encaminhar outro projeto de lei” e que “O gerente havia exigido aumento salarial”.
Em “Exame não confirma uma fratura”, temos uma curiosidade. Se a intenção era dizer que não houvera fratura alguma, o artigo é desnecessário. Bastaria dizer: “Exame não confirma fratura”. Por outro lado, se o exame não confirma “uma” fratura, eu poderia entender que houve mais fraturas, ou seja, não confirmou uma única fratura, e sim duas ou mais. Nesse caso, “uma” não seria artigo indefinido, e sim numeral.

25. EPIDEMIA ou EPIZOOTIA?

A frase é: “Os animais morreram devido à epidemia.”
O mais apropriado é: “Os animais morreram devido à epizootia.”
É inadmissível um médico-veterinário confundir epidemia com epizootia. O elemento “demos” vem do grego e significa “povo”: democracia (=governo do povo), demagogia (=levar, conduzir o povo), demografia (=descrição do povo)… Epidemia é “doença que surge rapidamente num lugar e acomete, a um tempo, grande número de pessoas”. Pessoas e não animais. Epizootia é “doença, contagiosa ou não, que ataca numerosos animais ao mesmo tempo e no mesmo lugar”. É bom não esquecer que o elemento grego para “animais” é “zoo”, daí a zoologia, o zoológico, o protozoário…
Você sabe qual é a diferença entre endemia, epidemia e pandemia? Endemia é uma doença que constantemente atinge determinada região. Epidemia é a doença que surge rapidamente numa região e atinge um grande número de pessoas; e quando a epidemia é generalizada, espalha-se por todas (=pan) as regiões, temos uma pandemia. É o caso da gripe suína.




26. BOMBEIRO INÚTIL ou SACRIFÍCIO INÚTIL?

A frase é: “Foi o sacrifício de um bombeiro inútil.”
O mais adequado é: “Foi o sacrifício inútil de um bombeiro.”
Em nome da clareza, devemos tomar muito cuidado com a colocação dos termos na frase. É sempre mais seguro o adjetivo acompanhar o substantivo a que se refere. Um adjetivo mal colocado pode causar mal-entendidos. O bombeiro herói foi transformado em alguém inútil.
Uma loja popular anunciava: “Roupas para homens de segunda mão”. É óbvio que de segunda mão eram as roupas. Eram roupas usadas para homens. Afinal, nunca vi uma loja especializada em roupas para homens “já usados, não virgens”!!!

27. ACABA COM ou ACABA EM?

A frase é: “Sequestro acaba com dois mortos e três feridos.”
Melhor seria: “Sequestro acaba em dois mortos e três feridos.”
“Acabar com dois mortos e três feridos” é confuso e paradoxal. Que significa “acabar com dois mortos”? E “acabar com três feridos” significa execução e morte? O fato é que, quando o sequestro acabou, havia dois mortos e três feridos. A confusão se deve a dois “culpados”: o “ambíguo” verbo acabar e a preposição “com” indevidamente usada em lugar de “em”.
Cuidado com o excessivo uso do verbo tirar. Hoje em dia, tiramos título de eleitor, tiramos pressão, tiramos impressões digitais… Se continuar assim, em breve não teremos mais nada!!! Ora, na verdade, nós só tiramos o título de eleitor da gaveta quando vamos votar. Quando alguém não tem o título de eleitor, em vez de tirar, é melhor solicitar sua confecção no órgão competente. Quanto à pressão, é melhor medi-la. Se “tirar a pressão”, você corre o risco de morrer. E, por fim, tirar as impressões digitais certamente causará muita dor!!!

28. PRECISAMENTE ENTRE ou ENTRE?

A frase é: “Os assaltos aconteceram precisamente entre as 18h e as 20h.”
O adequado é: “Os assaltos aconteceram entre as 18h e as 20h.”
O advérbio precisamente significa “com precisão”. Só podemos utilizá-lo quando se quer precisar algo, quando é necessário determinar a hora com exatidão. Se a ideia não for precisa, podemos usar o advérbio aproximadamente ou expressões do tipo “por volta de”, “em torno de”: “O assalto aconteceu aproximadamente às 18h”.
Por outro lado, também é inadequado usar o advérbio aproximadamente quando o número for preciso: “Compareceram ao encontro aproximadamente 453 pessoas” ou “A reunião começou aproximadamente às 15h17min.” Agora sim poderíamos usar os advérbios precisamente ou exatamente: “Compareceram ao encontro precisamente 453 pessoas” e “A reunião começou exatamente às 15h17min”.

29. A PARTIR DE ou DESDE?

A frase é: “Ele é nosso empregado a partir de janeiro de 1996.”
O correto é: “Ele é nosso empregado desde janeiro de 1996.”
Não devemos usar a expressão “a partir de” quando a referência for a tempo passado. Para isso, temos a preposição “desde”: “Ele está morando no Rio de Janeiro desde 1973”. Só usaremos a expressão “a partir de” se a referência for a tempo presente ou a tempo futuro: “O contrato está valendo a partir de hoje”; “Ele será nosso empregado a partir do próximo mês”.
Um grande empresário teria começado sua fala assim: “Desde que sou pequeno…” Isso só seria possível se alguém, depois de ser grande, foi decrescendo, até ficar pequeno… Talvez um gigante que tenha ficado anão!!! É lógico que o nosso humilde empresário se referia ao desempenho econômico da sua empresa, que já tinha sido uma grande potência, mas agora se tornou pequena no mercado.

30. EM BENEFÍCIO DE ou CONTRA?

A frase é: “A campanha é em benefício da criminalidade infantil.”
O adequado é: “A campanha é contra a criminalidade infantil.”
Só louco faz campanha “em benefício” da criminalidade infantil. Seria uma campanha “a favor”!!! Certamente a tal campanha era contra a criminalidade infantil. É interessante observar também que a expressão “criminalidade infantil” é ambígua, pois podemos dar duas interpretações: crimes cometidos contra crianças ou crimes cometidos por crianças.
Por falar em ambiguidade, é bom lembrar aquela frase típica de jornalista esportivo: “Técnico espera o adversário retrancado”. Quero saber quem jogará retrancado. Qual dos dois times: o do técnico ou o do adversário? O técnico vai pôr o seu time na retranca e esperar o adversário ou o técnico espera (=supõe) que o adversário vá jogar na retranca?




31. JUSTAMENTE ou PRECISAMENTE?

A frase é: “A bomba caiu justamente no Hospital da Cruz Vermelha.”
É mais adequado: “A bomba caiu precisamente no Hospital da Cruz Vermelha.”
Não é uma questão de certo ou errado. O advérbio justamente pode significar “precisamente, exatamente”, mas pode provocar mal-entendidos, pois pode significar também “com justiça”. É claro que não era a intenção de quem escreveu a frase. É óbvio que ele não queria dizer que foi justo a bomba cair no hospital, que a queda da bomba tenha feito justiça. Em razão disso, em situações como essa, o melhor é evitar o advérbio justamente e usar precisamente ou exatamente.
Frases ambíguas são sempre perigosas. Imagine o seguinte comentário a seu respeito: “Você foi justamente substituído pelo seu maior inimigo”. Observe que a frase admite duas interpretações: que você foi substituído precisamente pelo seu maior inimigo ou que você foi substituído com justiça pelo seu maior inimigo. Não sei o que é pior.

32. TERMINAR ou ACABAR?

A frase é: “O diretor terminou de chegar para a reunião das 10h.”
É melhor: “O diretor acabou de chegar para a reunião das 10h.”
Devemos evitar o uso do verbo terminar mais infinitivo. Em vez de “terminou de chegar”, é melhor “acabou de chegar”; em vez de “terminou de escrever um livro”, é preferível “acabou de escrever um livro”.
O verbo acabar também merece uma observação. Devemos evitar o uso do verbo acabar com os verbos começar, iniciar, terminar ou com o próprio verbo acabar. Observe que construções estranhas: “O jogo acabou de começar”; “O filme acabou de terminar”. Pior ainda é a aula que “acabou de acabar”.

33. CUSTAS ou CUSTO?

A frase é: “Recebeu uma ajuda de custas.”
O certo é: “Recebeu ajuda de custo.”
Toda ajuda é de custo. Você pode receber uma ajuda para pagar as custas de um processo, mas não existe “ajuda de custas”.
Qual é forma correta? “Ele vive às custas do pai ou Ele vive à custa do pai”? Embora seja usual e alguns autores já aceitem, a locução prepositiva “às custas de” deve ser evitada. É preferível seguir a tradição: “Ele vive à custa do pai”.

34. CERCA DE ou ???

A frase é: “Respondeu a cerca de 43 perguntas.”
O adequado é: “Respondeu a 43 perguntas.”
Não devemos usar “cerca de” para números exatos ou quebrados. Foram “precisamente ou exatamente 43 perguntas”. Só podemos usar “cerca de, por volta de, em torno de, aproximadamente” com números redondos: “Respondeu a cerca de cem perguntas”; “Eram em torno de 500 candidatos”; “Estavam presentes aproximadamente dez mil manifestantes”.
Devemos tomar muito cuidado com os números. Comparações exageradas podem prejudicar a clareza da frase: “Com o dinheiro do prêmio daria para comprar 350 escritórios na Avenida Paulista”. Confesso que imagino ser muito dinheiro, mas não tenho ideia da quantia. Você saberia me dizer se um apartamento onde coubessem dez milhões de caixinhas de fósforo é grande ou pequeno. Nem eu.

35. CHANCE ou RISCO?

A frase é: “A chance de ele ser condenado é enorme.”
O adequado é: “O risco de ele ser condenado é enorme.”

Não devemos usar “chance” para coisas negativas. Chance e oportunidade são palavras de carga positiva: “Ele tem a chance de ser absolvido”; “Finalmente, eles têm a oportunidade de serem os campeões”. Para coisas negativas, a palavra “risco” é mais apropriada.

Outra palavra de carga negativa é o verbo “tachar”. Você já viu alguém ser “tachado” de herói, de craque ou de inteligente? É óbvio que não. Quando alguém é tachado, pode esperar coisa ruim: “tachado de corrupto, de burro, de perna de pau, de ladrão…”


Precisão e adequação vocabular - Língua Portuguesa



Precisão e adequação vocabular:

1. MESMO ou IGUAL? e TODA ou TODA A?

A frase é: “O Ministério da Agricultura vai receber a mesma verba do Ministério dos Transportes.”
O correto seria: “O Ministério da Agricultura vai receber uma verba igual à do Ministério dos Transportes.”
Muitos pensam que MESMO e IGUAL são palavras sinônimas. Estão enganados: MESMO é “um só”; IGUAL é “outro”.
Neste exemplo, se os dois ministérios fossem receber a MESMA verba, significaria que essa verba seria dividida entre os dois. Isso não é verdade. O autor queria dizer que a verba de um era IGUAL à do outro, ou seja, duas verbas de MESMO valor.
Se você não entendeu a diferença, faça a seguinte experiência: coma um pão igual ao do dia anterior e depois o mesmo pão do dia anterior. Aquele que já estiver duro é o “mesmo”.
Se, mesmo assim, você ainda não percebeu a diferença, dou-lhe uma última chance: “dormir com a MESMA MULHER toda noite é o mesmo que
dormir com uma MULHER IGUAL toda noite?”
Por falar no assunto, não esqueça que “dormir TODA noite” é diferente de “dormir TODA A noite”. “TODA noite” significa “QUALQUER noite”; “TODA A noite” é “a noite INTEIRA”.
Portanto, querida amiga, se você beija “todo colega de trabalho”, cuidado para não beijar “todo o colega de trabalho”.

2. REVERTER ou INVERTER?

A frase é: “Parreira vai substituir Rivaldo por Juninho para reverter o resultado.”
O correto seria: “Parreira vai substituir Rivaldo por Juninho para inverter o resultado.”
REVERTER significa “voltar ao que era”; INVERTER significa “mudar para o oposto”.
Se estamos perdendo por 1 x 0 e queremos REVERTER o placar, na verdade estamos querendo “anular o gol adversário” e voltar ao 0 x 0.
Se o nosso desejo, entretanto, é a vitória, queremos é INVERTER (passar da derrota para a vitória).
“Reverter o quadro político” significa “voltar ao sistema anterior”.

3. AO INVÉS DE ou EM VEZ DE?

A frase é: “O carioca foi ao shopping ao invés de ir à praia.”
O correto seria: “O carioca foi ao shopping em vez de ir à praia.”
AO INVÉS DE significa “ao contrário de”. Só deve ser usado quando houver ideia de “oposição”: “Entrou à direita ao invés da esquerda”; “Subiu ao invés de descer”.
Se a ideia for de “troca, substituição”, devemos usar EM VEZ DE (=em lugar de).
É interessante observar que não há restrições quanto ao uso de EM VEZ DE. Nós poderemos usá-lo mesmo quando houver a ideia de oposição. Portanto, se você quer facilitar a sua vida, use sempre EM VEZ DE: você jamais correrá o risco de errar.

4. COISA ou ???

Vocês já viram coisa mais genérica que a palavra COISA.
COISA substitui qualquer “coisa”. Faltou sinônimo, lá vai a COISA. Já virou até verbo: “Eles estão COISANDO”. Que será que estão fazendo?
COISA é um substantivo que tem até superlativo (que é privilégio dos adjetivos): “Não falei COISÍSSIMA nenhuma”.
Tudo isso me faz lembrar uma matéria que li sobre um fiscal da caderneta hipotecária de um grande Banco. Dizem que isso ocorreu no interior do Paraná. Certo fazendeiro pediu um grande empréstimo ao Banco para fazer melhorias em sua propriedade. Antes de quitar a dívida, morreu.O Banco, quando soube da morte, mandou o nosso fiscal, que era conhecido como “o rei do relatório”. Chegando à fazenda do falecido, ficou satisfeito ao constatar que a viúva continuara a obra do marido, que o dinheiro estava bem aplicado e que o Banco não corria riscos. Voltou à sua cidade, e escreveu no seu relatório: “O fazendeiro realmente tinha morrido, mas a mulher mantinha a coisa em pleno funcionamento”.
Lá sabe Deus que “coisa” é essa!…

5. DE ENCONTRO A ou AO ENCONTRO DE?

A frase é: “Qualidade é ir de encontro às expectativas do cliente.”
O correto é: “Qualidade é ir ao encontro das expectativas do cliente.”
Nossos consultores de Qualidade, com muita frequência, cometem esse erro. Essa qualidade eu não quero!  O que nós temos aqui é um verdadeiro choque. Ir de encontro a significa “ir contra as expectativas do cliente”; ir ao encontro de significa “ir a favor, estar de acordo, atender às
expectativas do cliente”.
Responda rápido: Um bêbado “caminhando”, com uma garrafa de cachaça na mão, vai de encontro ao poste ou vai ao encontro do poste?
Se você respondeu “tanto faz”, acertou. Mas não esqueça a diferença: se o bêbado vai de encontro ao poste, temos um choque; se ele vai ao encontro do poste, temos um “abraço” e uma garrafa salva – o que é muito importante.
Resumindo: DE ENCONTRO A = ir contra; AO ENCONTRO DE  =  ir a favor.



6. A NÍVEL DE ou ??? e ENQUANTO ou ???

A frase é: “Este fato a nível de política foi um desastre.”
É mais adequado: “Este fato em termos políticos foi um desastre.”

Nos últimos anos, a expressão A NÍVEL DE tornou-se “a estrela maior” da fala de nossos políticos e executivos em geral. Muitos ainda a usam e, provavelmente, julgam que estão falando “bonito e correto”. Grande asneira! A NÍVEL DE é modismo. O que existe é EM NÍVEL, mas só podemos usar quando houver a ideia de “níveis”. Por exemplo: “Este caso só será resolvido em nível federal” (poderia ser no nível estadual ou municipal).
Você afirmar que “um determinado problema da sua empresa só será resolvido em nível gerencial” está correto, pois deve haver outros níveis hierárquicos dentro da sua empresa.
Agora … “Somente eu, ENQUANTO pessoa, A NÍVEL de ser humano, sou capaz de resolver os nossos problemas.” Isso é demais! Se não bastasse o A NÍVEL DE, ainda temos que aguentar o ENQUANTO? É outro caso de uso inadequado das palavras.
ENQUANTO é uma conjunção subordinativa que tem a ideia de tempo simultâneo: “Ela trabalha enquanto ele dorme.” Pelo visto, o autor da frase acima não é capaz de resolver nem seus próprios problemas linguísticos, quanto mais os problemas da empresa.

7. PREVER ou DETERMINAR?

A frase é: “Ele conseguiu uma liminar prevendo a sua reintegração.”
É mais adequado: “Ele conseguiu uma liminar determinando a sua reintegração.”

Não é uma questão de previsão (=ver antes). Qualquer liminar é uma ordem a ser seguida, portanto ela determina.
Com muita frequência ouvimos ou lemos frases do tipo: “Ele entrou com uma liminar…” Na verdade, ninguém “entra com uma liminar”. O que nós podemos fazer é entrar com um pedido de liminar. Para quem não sabia: liminar é algo que o juiz concede ou não. Liminar se pede e o juiz concede ou não. Assim sendo, essa história de “entrar com uma liminar” é impossível. E, se o juiz conceder liminar favorável, é redundante (se o juiz concedeu a liminar, só pode ter sido favoravelmente).

8. ACATAR ou ACOLHER?

A frase é: “O juiz acatou uma ação…”
A solução é: “O juiz acolheu uma ação…”

Acatar e acolher não são palavras sinônimas. Um juiz acolhe uma ação, e não acata. Acatar significa “obedecer”. Portanto, não é o juiz que acata, e sim nós que acatamos a ordem de um juiz.
Dizer que “um juiz deu um parecer” também deixa qualquer juiz chateado com a nossa ignorância. Quem dá parecer é advogado, consultor, perito… Juiz não dá parecer, juiz decide.

9. RENDER ou CUSTAR?

A frase é: “A nudez rendeu-lhe um processo.”
O mais adequado é: “A nudez custou-lhe um processo.”

O verbo render tem carga positiva. É, portanto, inapropriado usarmos o verbo render com a palavra processo, que tem carga negativa. Seria apropriado se a tal “nudez lhe tivesse rendido uma pequena fortuna”.
Vejamos mais algumas combinações inadequadas que devemos evitar: “Ela teve o privilégio presenciar o crime…”; “Os antigos prisioneiros terão a alegria de se reencontrar para lembrar os anos de sofrimento”; “Um acidente fatal deixou o saldo de três mortos e cinco feridos”…
Imagine a seguinte situação: um jornalista fazendo uma reportagem a respeito de um grande acidente aéreo. Muitas mortes e muita gente ferida. Alguns em estado gravíssimo. O repórter, na UTI de um grande hospital, consegue entrevistar um sobrevivente. Aí “solta a pedrada”: “Este aqui teve a sorte de só perder a perna esquerda”. Se compararmos a situação do sobrevivente com os demais, daria até para entender a frase do nosso repórter. Mas, que é de mau gosto, isso é. Na verdade, ele teve a sorte de sobreviver.

10. ARRUINADO ou DESTRUÍDO? e COMPLEMENTAÇÃO ou SUPLEMENTAÇÃO?

A frase é: “O incêndio deixou o aeroporto totalmente arruinado.”
É melhor: “O incêndio deixou o aeroporto totalmente destruído.”
Arruinado não é bem ficar “em ruínas”. Arruinado ficou quem foi levado “à ruína”, ou seja, quem perdeu tudo, quem perdeu todos os seus bens, quem perdeu toda a sua riqueza. No Rio de Janeiro, tivemos um triste caso de um prédio destruído que deixou muitas famílias arruinadas, mas o dono da construtora…
Confundir complementação com suplementação também pode causar algumas dores de cabeça. Complementação é “aquilo que complementa, aquilo que completa”. Suplementação é “um extra, um adicional”. Receber a complementação do 13º salário significa receber a segunda parte. Uma suplementação salarial seria um 14O salário por exemplo. Num jogo de futebol, a etapa complementar é o segundo tempo; uma etapa suplementar seria uma prorrogação. Qual é diferença entre uma verba complementar e uma suplementar? Verba complementar é a última parte daquela verba que já estava prevista. Verba suplementar é aquela verba extra, não prevista, que lá sabe Deus de onde sai.




11. QUESTIONAR ou PERGUNTAR?

A frase é: “Quem é você, questionou o delegado.”
O mais adequado é: “Quem é você?, perguntou o delegado.”
Questionar não é, como muitos imaginam, sinônimo de perguntar. Se você quer saber alguma coisa, pergunte. Questionar é “levantar questão, pôr em dúvida, discutir”. Nós podemos, por exemplo, “questionar a validade de um contrato”, “questionar a veracidade das denúncias”, “questionar a importância de um projeto”…
O problema é o uso do verbo questionar, que não é sinônimo do verbo perguntar. O substantivo questionário é “uma série de questões ou perguntas”. Isso significa que um conjunto de perguntas forma um questionário. Ainda não inventaram o “perguntário”.

12. ADMITIR ou CONFESSAR?

A frase é: “Ele admitiu que matou mais de dez crianças.”
O mais adequado é: “Ele confessou que matou mais de dez crianças.”
O verbo admitir, nesse caso, significa “reconhecer, confessar”. O problema é que o verbo admitir apresenta uma carga muito leve. A frase pede um verbo mais forte. Vejamos alguns exemplos em que o verbo admitir está bem empregado: “O professor admitiu que errou”; “A falha foi minha, admitiu o gerente”; “O atacante admite que não vem jogando bem”.
Estranho mesmo é o uso do verbo admitir, que tem carga negativa, em frases “positivas”: “Ele admite que está fazendo o maior sucesso”. De duas uma: ou ele havia negado e só agora está reconhecendo o seu sucesso; ou ele apenas disse (ou afirmou) que está fazendo muito sucesso.
Melhor é usarmos o verbo admitir, no sentido de “reconhecer”, apenas em frases “negativas”: “Admitiu o seu fracasso”; “Admitiu o seu erro”; “Admitiu o seu esquecimento”.

13. AO CONTRÁRIO DE ou DIFERENTEMENTE? e COM RESERVAS ou RESERVADAMENTE?

A frase é: “Ao contrário do que foi publicado ontem, Ronaldinho já fez 32 e não 31 gols.”
O adequado é: “Diferentemente do que foi publicado ontem, Ronaldinho já fez 32 e não 31 gols.”
A expressão ao contrário de só deve ser usada quando houver a ideia de “coisas opostas”, quando as palavras apresentarem sentidos contrários. Ora fazer 32 em vez de 31 gols não são “coisas opostas”, são apenas diferentes. Portanto, quando um órgão de comunicação comete um erro e deseja fazer uma correção, o mais adequado é usar o advérbio diferentemente, ou seja, é uma informação diferente daquela que foi publicada anteriormente. Só podemos usar a expressão ao contrário de se a correção disser o oposto ao que foi divulgado: “Ao contrário do que foi publicado ontem, Fulano de Tal foi julgado inocente, e não culpado.”
Também merece cuidado o uso do advérbio reservadamente. Não podemos confundir com a expressão com reservas. Observe a diferença: “O assunto deve ser tratado reservadamente” e “O assunto deve ser tratado com reservas”. Tratar um assunto reservadamente significa tratá-lo “confidencialmente, sigilosamente, a sós”; tratar um assunto com reservas significa tratá-lo “com cuidado, com restrições, impondo limites”. Em outras palavras: “guardar alguns segredos, não falar tudo que sabe”.

14. DEFICITÁRIA ou INEFICIENTE ou DEFICIENTE?

A frase é: “Por não atingir os objetivos propostos, o presidente considerou a campanha deficitária.”
O correto seria: “Por não atingir os objetivos propostos, o presidente considerou a campanha ineficiente.”
Deficitária e ineficiente são dois adjetivos bem diferentes. Uma “campanha deficitária” seria aquela que causasse prejuízo financeiro, ou seja, que causasse déficit. Por outro lado, se a campanha não foi eficiente, porque não atingiu os objetivos propostos, ela foi ineficiente. Então não esqueça: deficitário é “o que causa déficit” e ineficiente é “o que não é eficiente”.
Também não devemos confundir ineficiente com deficiente. Já vimos que ineficiente é tudo aquilo que não é eficiente. Só devemos usar deficiente quando houver “falha, falta de alguma coisa, imperfeição”. Daí o deficiente físico. Se estiver faltando alguma coisa no desempenho de um profissional, precisamos saber qual é sua deficiência. Agora, se uma empresa não é mais tão eficiente quanto era no passado, devemos buscar as causas da sua ineficiência.

15. O RESTO ou OS DEMAIS?

A frase é: “O primeiro da fila já pode entrar. O resto deve aguardar na sala ao lado.”
O adequado é: “O primeiro da fila já pode entrar. Os demais devem aguardar na sala ao lado.”
A palavra resto apresenta, entre nós, uma forte carga negativa. É pejorativo tratarmos as pessoas por resto. Soa muito estranho quando ouvimos na televisão: “Rio de Janeiro e São Paulo assistem a São Paulo e Botafogo. O resto do país fica com o jogo Grêmio e Goiás.” Parece que é a “porcaria” que restou. Por causa dessa carga pejorativa, devemos evitar o uso da palavra resto. A palavra restante ameniza um pouco, mas só ameniza, pois ainda apresenta alguma carga negativa. Melhor mesmo é usar “os demais”, “os outros”…
Isso tudo me faz lembrar a velha distinção que aprendemos nos bons tempos de escola: “o professor não erra; no máximo ele se engana”. Mais tarde é o chefe: “ele nunca erra; eventualmente se engana”. É visível que o uso de engano, em vez de erro, é para suavizar o fato. Um colega certa vez definiu bem a diferença que a maioria das pessoas faz para erro e engano: “quem erra é por burrice ou ignorância; quem se engana é por descuido ou desatenção”.




16. AMORTIZAR ou AMORTECER? e MINIMIZAR ou DIMINUIR?

A frase é: “A água amortizou sua queda.”
O correto é: “A água amorteceu sua queda.”
Amortizar e amortecer são derivados de morte (=levar à morte). Significam “diminuir, amenizar”. Há, entretanto, uma sutil diferença: amortizar só é utilizado para se referir a dívidas ou bens materiais. Se você pagou à Caixa Econômica mais uma prestação referente ao financiamento feito para adquirir a casa própria, você amortizou sua dívida (=diminuiu a dívida). Quando você cai, sua queda pode ser amortecida pela grama ou pela água (=amenizada/suavizada pela grama ou pela água).
Mais do que diminuir é minimizar, que é um neologismo já devidamente registrado no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, publicado pela Academia Brasileira de Letras, e nos novos dicionários Aurélio, Houaiss, Caldas Aulete, Michaelis… Certa vez, um aluno definiu minimizar como “diminuir ao máximo”. Ele tinha alguma razão. Apenas misturou duas possibilidades: “reduzir ao mínimo” com “diminuir o máximo possível”. Outro aspecto a ser observado é o uso do verbo minimizar com um sentido “suspeito”. Há quem diga: “É preciso minimizar o fato”. Nesse caso, minimizar é usado com o sentido de “atenuar, suavizar”. Ou pior: “fazer o fato parecer menor”.

17. CIDADE ou MUNICÍPIO? DIVISA ou LIMITE ou FRONTEIRA?

A frase é: “O pecuarista cria seu gado no interior da cidade.”
O mais adequado é: “O pecuarista cria seu gado no interior do município.”
O pecuarista que cria seu gado no interior da cidade deve estar provocando um grande problema, pois criar gado no centro da cidade gera muitos problemas urbanos. Muita gente boa trata cidade e município como sinônimos. Rigorosamente, cidade refere apenas o núcleo urbano e município abrange toda a área, urbana e rural.
Entre municípios não há divisas nem fronteiras, e sim limites. Divisas separam estados, e entre países há fronteiras. Portanto, é inadequado quando a repórter diz: “Aqui na divisa do Rio de Janeiro com São João do Meriti”. Entre municípios há limites. É só observar as placas do DNER: “Limite (entre) Rio de Janeiro (e) Duque de Caxias”. Quem tem divisa é o estado do Rio de Janeiro com o estado de São Paulo, com Minas Gerais, com o Espírito Santo. E o Brasil tem fronteiras com quase todos os países da América do Sul.

18. GEADA CAI ou NÃO CAI?

A frase é: “Nesta madrugada, pode cair geada.”
O correto é: “Nesta madrugada, pode se formar geada.”
Ao contrário da neve, que cai, a geada se forma no solo ou sobre águas paradas. Portanto, geada não cai.
Se neve cai, é desnecessário dizer que “caiu neve”. Basta dizer que nevou. O mesmo ocorre com a chuva. Li num bom jornal: “A chuva que caiu ontem à noite provocou…” Não conheço chuva que não cai. “Chuva que caiu” é redundante, é desnecessário. Bastaria dizer: “A chuva de ontem à noite provocou…”

19. QUASE NENHUMA ou QUASE?

A frase é: “Não há quase nenhuma correção a fazer.”
O adequado é: “Não há quase correção a fazer.”
Se não existe “meia correção” e nenhuma indica ausência absoluta, a combinação “quase nenhuma” é absurda. Estamos diante de uma contradição: ou não há nenhuma correção a fazer ou não há quase correção a fazer. Se a intenção do falante é dizer que o trabalho está quase perfeito, com pouquíssimos erros para corrigir, basta eliminar o nenhuma: “Não há quase correção a fazer”. Se o trabalho estiver perfeito, aí “não haverá nenhuma correção a fazer”.
Deu num bom jornal: “Jogador custa quase mais de um milhão de dólares”. Gostaria de saber quanto custa o tal jogador. O repórter certamente estava um pouco inseguro. Não é difícil deduzirmos que o preço do atleta é mesmo de um milhão de dólares, pois o “quase” e o “mais” se anulam. Assim sendo, o “jogador custa um milhão de dólares”.
Ou será que ele queria dizer um pouco mais de um milhão de dólares?

20. SEGUIMENTO ou SEGMENTO?

A frase é: “É excelente seguimento de mercado.”
O correto é: “É excelente segmento de mercado.”
Confundir seguimento com segmento é muito frequente. Seguimento vem do verbo seguir. Seguimento é o “que segue”: “Isto vai aparecer no seguimento do trabalho”. Segmento vem do verbo segmentar, que uma das partes resultantes da segmentação. Segmentar é “dividir, separar”.
Deu num bom jornal: “O atacante é um grande finalista”. O nosso repórter certamente queria dizer “um grande finalizador”, ou seja, aquele que finaliza bem o lance, chuta bem ao gol. Um grande finalista pode ser o time do atacante, desde que chegue ao grande jogo final do campeonato.